Thursday 29 March 2007

A caminho do Deserto Branco

Adivinhem se, no Saara, Julien e eu não ficamos com aquela marchinha de carnaval martelando na cabeça: "A-la-la-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô, mas que calô-ô-ô-ô-ô-ô-or, fui caminhar no deserto do Saara, o sol estava quente e queimou a nossa cara...". Pois é, segunda decepção (lembrem, a primeira foi a cerva quente): acordamos no acampamento e o céu está nublaaaado, nublado. Sem falar no vento, que causou 3.952 nós no meu cabelo, além de encher nossas malas, ouvidos e almas de areia!
Vejam aí o amontoado de gente coberta, se preotegendo das centenas de moscas que vieram nos dar bom dia.



Enfim, o otimismo é o último que morre e lá fomos nós para umas 2h de viagem rumo ao Deserto Branco, onde passaríamos nossa segunda noite.
Até agora omiti um detalhe que, na verdade, foi a maior decepção de todas da viagem: o MALA DOMINICANO que estava no grupo. O cara era tão prisioneiro de seu próprio mundo tentando fazer amigos que desatava a cantar "Besa-me mucho" hiper alto no meio das conversas paralelas dentro do carro. Insano, saía falando sobre assuntos que ele já tinha começado sozinho, na cabeça dele, gargalhava do nada... Bom, até que tomou um gelo de todo mundo porque ninguém aguentava mais o ser. E, tenho certeza que foi por causa de toda essa energia negativa, que o nosso pneu furou.



E lá foram os homens - os menos preguiçosos, porque os outros ficaram dentro do carro comigo - trocar o pneu. Bom, assim que abaixaram o carro novamente após a troca, se tocaram que o pneu estava furado. A esta altura já havia uns seis jipes parados no acostamento dando apoio moral à galera. Pegamos o estepe do outro carro do nosso comboio de dois e tudo estava resolvido. E o mala dominicano, arrasado e rejeitado, dizendo: "Eu sabia que não era para eu vir nessa viagem. É tudo culpa minha". Eu tenho certeza de que era!!!! Bom, voltamos a pegar velocidade na estrada e o que acontece???? Siiim, o pneu, o recém-trocado, fura!!!! E agora não temos mais nenhum estepe! Tivemos de esperar outro jipe passar e nos "doar" um pneu.
Bom, depois de tanto sufoco e os dois passeios do dia cancelados por causa do mau tempo, recebemos um prêmio. Veja as fotos abaixo. Lugar lindo......





E a viagem não acabou ainda! Este ainda não é o Deserto Branco! Aguardem...

Sunday 25 March 2007

Cerveja no deserto

As fotos que vimos na nossa escola de árabe e os depoimentos dos colegas que já fizeram a viagem ao White e ao Black Desert prometiam um fim-de-semana (que, aliás aqui é na sexta e no sábado) inesquecível: sol, dunas, noites com música tocada pelos beduínos, tenda a céu aberto, abarrotado de estrelas. E lá fomos nós na quinta-feira depois da aula rumo ao Saara animadíssimos com a nossa primeira viagenzinha no Egito!
Fomos em dez (dois ingleses, três dinamarqueses, um dominicano, um iraniano, uma alemã e dois brazucas) em um "microônibus", que nada mais era do que uma perua, rumo a Bahariya. Mais de quatro horas de estrada depois, incluindo parada para abastecer a perua, chá dos motoristas com os frentistas e reza numa mesquita na beira da estrada, chegamos em um hotel, de onde mudamos para dois jipes quatro por quatro e fomos dormir no deserto. Já estava escuro e o nosso guia foi dirigindo como se soubesse para onde estava indo. E eu pensei comigo: "Uau, os caras devem se guiar pelas estrelas ou então - menos interessante - eles fazem sempre o mesmo caminho e já o sabem de cor." Nem uma coisa nem outra: o segredo é... um GPS! Pois é, não se fazem mais beduínos como antigamente...
Bom, chegamos na porção de areia que íamos ocupar naquela noite e estava ventando muito, muito mesmo. Em alguns minutos, a nossa proteção estava montada. O esquema é todo profissa: os dois carros são parados em L e dois caras os aproveitam para estender um lençolzão na lateral deles. Em seguida, estendem uns tapetões no chão, jogam uns colchonetes fininhos, colocam duas mesinhas baixas e pronto! Está montada a nossa sala de jantar! Só faltava a cerveja. Bom, não podemos esquecer que estamos num país muçulmano, portanto, sem hábito de consumo de bebida alcoólica. Mas qual foi a nossa surpresa quando perguntamos por cerveja e o guia sacou seu celular e encomendou algumas garrafas! A decepção: quem não tem hábito também não tem noção de que cerveja se toma gelada... Ela veio morna, morna...

O jantar foi uma delícia e depois veio a cantoria dos beduínos. Tudo muito gostoso, em volta da fogueira, acompanhado, como não poderia deixar de ser, do "shay", o chá preto, que era feito com um pouco da brasa da fogueira. O troço é beeeeem doce, mas por incrível que pareça, mesmo assim muito gostoso... Olhem aí a foto do preparo do chá. O flash estragou o ambiente e deixou as brasas brancas, mas, pelo menos dá uma idéia de como era feito...
Aguardem as histórias do dia seguinte! Infelizmente, elas não são as melhores possíveis...

Monday 19 March 2007

El Kit Kat


O bairro "quebrada" perto do barco.

Leia-se "quebrada" por ser muito pobre, sujo,bagunçado etc etc.Violência não rola, isso é quase zero no Egito, Il-hamdu lil-lah!!!(Gracas a Deus!)

Na foto, duas constantes na cidade, carros velhos e garotos, homens, mulheres ou idosos carregando esses "porta pães". Ainda ei de tirar uma foto dos caras de bicicleta no trânsito com uma mão no guidão e outra equilibrando os pães.

Saturday 17 March 2007

A nossa casa-barco



Aqui uma parte da nossa imensa sala.



Outra parte, com nossa área de trabalho.



A nossa cozinha - a maior que já tivemos!



E aqui está o Julien na laje.

Zamalek - vista da nossa varanda

Balança, mas não sai do lugar - parte 2

Bom, continuando, desta vez sem fotos (calma, vou colocá-las em seguida, uma a uma)... Respondendo a perguntas e comentários:
Sim, Carol, o barco balança, e às vezes é bastante! Tem gente que treina remo no Nilo e o treinador deles ("eles" são egípcios, em sua maioria, mas também tem muita mulher - todas estrangeiras - que remam) vai acompanhando a turma numa lancha. Além disso tem os tradicionais barcos de passeio no Nilo - com música alta e luzes neon piscantes, muito brega! - que sobem e descem o rio. Toda vez, o barco dá umas balançadas e eu, que nunca passei por isso, enjoei muito na primeira semana!!! Ficava balançando em terra firme, um horror! Mas a gente acostuma, agora não sinto mais nada...
Bokão, o Nilo está beeeem longe de ser o Pinheiros. Eu não arriscaria, mas tem gente que até esquia na água aqui! Blergh...
Ah! E dá para fazer altas festas aqui, sim! É só olhar o tamanho da "laje" do barco! Pena que a gente não conhece tantos convidados para encher esse espaço todo!
O barco tem alguns aspectos "roots", como, por exemplo, a eficiência das aranhas em armar teias da noite para o dia. Mas, no geral, vocês vão ver que o barco realmente parece uma casa.

Balança, mas não sai do lugar



Okay, a pedidos, aqui vão alguns detalhes do nosso barco. Bom, para vocês terem uma idéia da localização, esta é a mesquita Kit Kat, que fica exatamente atrás da nossa casa, do outro lado da rua. Isso quer dizer que, das 5h da matina às 19h, cinco vezes ao dia, de segunda a domingo, ouvimos a chamada de reza dos muçulmanos bem pertinho... Sem falar no barulho da rua: os moradores do Cairo AMAM uma buzina e não vivem sem ela (vamos entrar nos detalhes sobre o assunto mais para a frente). Portanto, são 24 horas ininterruptas de buzinas...
Bom, mas vamos falar do outro lado do barco, beeeem mais agradável...



Esta é a nossa modesta, porém preciosa varanda. Daqui a gente pode olhar diretamente para a ilha de Zamalek (tentei colocar a foto abaixo, mas parece que não cabe mais), onde mora a maioria dos expatriados aqui do Cairo. Portanto, nos fundos do barco, por onde entramos, estamos num dos bairros mais pobres do Cairo, Imbeba, e quando eu ando pelas ruelas de lá sem véu todos me olham como se eu fosse um ET, pois eles nunca vêem gringos. Já do outro lado do rio, em Zamalek, eu pareço quase normal e chamo muito menos atenção.

Friday 16 March 2007

Sol na varanda

Juntamente com as latas enferrujadas, sacos plásticos e outras companhias não muito agradáveis, passamos a boiar no Rio Nilo há cerca de um mês, quando nos mudamos para uma casa-barco no Cairo, onde devemos passar, no mínimo, nossos próximos 11 meses. Como eu imaginava, o Nilo não se parece nada com aquele rio sobre o qual aprendi nos livros de História e era, para mim, algo quase que “sagrado”. Ele é bastante poluído, pelo menos quando passa aqui pelo Cairo, mas tem o seu charme. Afinal, acordar num dia ensolarado – o que, pelo menos neste primeiro mês, era quase rotineiro – e olhar para as águas brilhantes do Nilo da varanda da casa-barco não tem preço!
Bom, a pedido dos amigos e para não termos de responder separadamente cada e-mail com a complexa pergunta: “E aí? Como é morar no Cairo?”, resolvemos começar este blog.
E é impressionante como temos coisas para contar depois de apenas um mês nesta cidade! Coisas boas, más ou apenas extremamente diferentes de tudo o que já vivemos. Espero que vocês gostem.

Monday 12 March 2007