Wednesday 28 November 2007

Pastel de feira




Quando se mora muito tempo fora do Brasil (sei que o tempo é relativo, mas para mim, três anos já é muito tempo…), a tendência é ficar com saudades de várias comidas típicas da nossa terrinha, até mesmo aquelas que a gente não costumava comer quando morava no Brasil.
Nos últimos anos, os brasileiros de Londres já puderam matar a vontade de vários vícios, como arroz e feijão com farinha de mandioca, coxinha e até empadinha. Mas faltava um bom pastel, daqueles fresquinhos que comemos na feira, acompanhados de um caldo de cana. Como esta terra não é muito adequada para plantação de cana, o caldo ainda está faltando, mas o pastel chegou!
Não bastasse o pastel ser bom e relativamente barato (1 libra), ele é genuinamente de feira, já que a família do pasteleiro tem mais de 40 anos de tradição em feiras na região do Jabaquara, zona Sul de São Paulo. Além disso, a família do pasteleiro é japonesa e, pelo menos em São Paulo, os melhores pastéis de feira são feitos por japoneses.
O jovem pasteleiro veio para Londres para estudar e diz que o segredo da receita, guardado a sete chaves pela família, só foi repassado a ele pela mãe porque ela acreditava que em caso de necessidade no exterior o filho poderia se virar fazendo pastel. A confecção do salgado começou a ser feita apenas para amigos, que passaram a pedir pastel com cada vez mais frequência. O pasteleiro e a noiva resolveram começar a vender a iguaria, que fez o maior sucesso em uma feira de gastronomia em Londres (onde um pastelzinho de aperitivo era vendido a 4 libras (quase R$ 15!). O pasteleiro diz que já recebeu várias propostas para trabalhar em restaurantes, todas recusadas por ele. “O que eles querem é descobrir o segredo da receita…”, diz ele.
Ele diz que quando abriu o negócio no Nags Head Market, uma feirinha na esquina da Holloway Road com a Seven Sisters Road (no norte de Londres e, por sorte, perto da minha casa!), 90% de sua clientela era inglesa. “Eles custam a experimentar o primeiro, mas depois disso, voltam sempre.” Após um mês e meio de atividade, o público já é formado por 50% de brasileiros. O pasteleiro vende, em média, 70 pastéis por dia durante a semana e cerca de 400 nos dois dias do fim-de-semana. O trabalho não é fácil. São oito horas em pé em uma banquinha na feira (para amenizar o frio do inverno que está chegando, ele tem um aquecedor portátil atrás do balcão), além do tempo do preparo da massa, em casa.



Por enquanto, o pasteleiro oferece cinco sabores de pastel (queijo, pizza, carne, banana com canela e banana com Nutella), mas em breve ele deve oferecer também o pastel de palmito e o de frango com catupiry.
Pela qualidade do pastel, o jovem e a noiva têm um futuro promissor pela frente!

Saturday 24 November 2007

Feliz aniversário, Kizz


Hoje você faria 34 anos. E alguém - Deus, o destino, o universo - não quis que você os completasse perto da gente aqui neste mundo. Eu espero que um dia eu entenda o por quê, mas confesso que ainda existe um grande ponto de interrogação no meu coração.
Durante estes quase cinco meses eu pensei em tanta coisa, passei por tantas perguntas existenciais que eu não consigo responder, tantas dúvidas, busquei tantas explicações para tentar amenizar a sua partida repentina, mas nada preenche o vazio da perda que eu estou sentindo.
Se eu me sinto assim, imagino o que o Paps e a Má estão passando e acho que é por isso que é ainda mais difícil aceitar o que aconteceu. Sempre fiquei tão preocupada com vocês três, desde pequena eu tentava te proteger das maldades das outras crianças - e depois dos adolescentes - e sofria tanto quando via você passando por uma situação difícil. Depois disso, a minha preocupação foi transferida para a Má e o Paps e sempre desejei, rezei e torci para ver os dois felizes. E agora sei que isso não vai ser tão fácil...
Achei esta frase na definição "quem sou eu", do seu Orkut: "life means staying alive and show others to enjoy their own lives..." e fiquei me perguntando por quê você não continuou a fazer isso aqui...
Eu sinceramente espero que Paps, Má e eu voltemos a saber curtir a vida logo.
Kizz, meu irmão, eu penso em você todos os dias, sempre que olho para um lindo pôr-do-sol ou nascer do sol, uma lua iluminando o céu, sempre que escovo os dentes no chuveiro (sei que se eu pudesse te ouvir você estaria me repreendendo por desperdiçar água - mas você deve ter percebido que reduzi a freqüência da prática...), sempre que olho para as plantas no jardim, sempre que como chocolate amargo, além das inúmeras situações em que me pego dizendo: "Meu irmão sempre dizia que...".
Sinto muitas saudades suas e esta semana acho que caiu a ficha de que não vou ver você por um bom tempo. E me deu uma agonia de pensar que se as saudades já são tão grandes agora, elas só vão aumentar no futuro, já que eu não vou te encontrar tão cedo para te dar um abraço bem apertado. Eu queria muito que você estivesse aqui, muito, muito, muito.
E eu espero que um dia eu consiga entender por quê Deus ou o universo escreve por linhas tortas e por quê ele achou que era hora de você ir embora e fazer a gente sofrer tanto. Só consigo pensar que você foi realmente promovido para um lugar melhor, onde a gente não sente dor e não existe maldade.
Eu te amo muito, Kizz. Apague as velinhas aí e coma muito bolo de chocolate e seja feliz, porque você é uma alma especial e merece. Um dia a gente comemora seu aniversário juntos de novo. Prometo fazer um brinde aqui embaixo para você com o Julien - que também está te mandando parabéns!

Thursday 22 November 2007

Os ingleses e seus esportes.


Em Londres estava chovendo desde quinta-feira da semana passada, aquela chuva bem mala, vezes mais forte, vezes mais fraca. Acabou ontem à noite, engraçado, coincidência ou não, acho que os ingleses choram por antecipação. Eles foram eliminados, derrotados, humilhados em casa, no belíssimo Wembley, pela Croácia por 3x2 numa noite de muita chuva, frio e choro.
É engraçado como eles têm um discurso de resignação, luta, conquista, um discurso de guerra, de um país que um dia foi “O Império” que inventou 90% das regras e jogos modernos como o futebol, criquet, rugby....Mas como eles são ruins e azarados em tudo isso é impressionante, em menos de 1 mês eles sofreram 3 derrotas esportivas daquelas de doer por muito tempo, ou 4 se contar que o futebol caiu, levantou e tombou de forma espetacular.
Tudo começou na quarta-feira dia 17 de outubro. Jogando em Moscou, os ingleses tinham a chance de praticamente garantir a classificação para a Eurocopa 08 se vencessem, mas perderam de virada por 2x1. A catástrofe começava, pois com a derrota os papéis se inverteram e agora era a Rússia que precisava apenas de uma vitória simples no próximo jogo contra a fraca Israel para se classificar. Os jornais por aqui já consideravam a classificação um sonho distante.
No sábado seguinte, dia 20, chegou a chance de ouro, com a Inglaterra finalista da Copa do Mundo da França contra a África do Sul. O país preparado para comemorar noite adentro, os pubs lotados, cerveja vendendo como água. Resultado final: África do Sul 15 x Inglaterra 6.
Mas eles ainda tinham outra chance no dia seguinte, domingo. O garoto de ouro Lewis Hamilton era “barbada” para ser o campeão da F1 no Grande Prêmio do Brasil. Bom, essa não preciso nem falar......

Na segunda-feira essa era a capa do The Sun:




"Boa tentativa" e "Oh bem, sempre teremos os dardos"




Já o The Guardian:

"Esse é a trinca...Hamilton o último dos ingleses perdedores"


















Para todos aqui o esporte nacional estava em recesso, seja no futebol, no rugby ou qualquer outro.
Sábado passado eis que a Fênix ressurge, contra todas as possiblidades, Israel vence a Rússia por 2x1 e vira tudo de novo: um simples empate em Wembley garantiria os ingleses na Suíça-Aústria 08.
Ontem, aquela chuva e a Fênix apagou. Em 15 minutos de jogo um frango memorável do goleiro Carson e um golaço numa bela jogada da Croácia e o resultado era o incrível 2 x0.
Na volta do intervalo a Fênix teve uma última chamusca, um pênalti e uma bela jogada de Beckham cruzando para o “grilo” Peter Crouch e os ingleses empataram em 2x2, aos 25 do segundo tempo. Mas os croatas, já classificados e realmente sem nenhum problema em perder ou ganhar o jogo, estavam a fim mesmo de sacanear os ingleses, um belo chute de fora da área e by by Eurocopa.
Hoje, aquele monte de “o que está acontecendo?”, “o que fazer?”, “nós temos um grande time!!” essa última é bem discutível....
Eles podem não ser bons em ganhar, mas são os melhores em perder.

Wednesday 21 November 2007

Aprendendo a perder

Parece que o destino quer mesmo me ensinar a lidar com a perda e com a impotência que se segue a ela... Hoje foi o dia de a minha magrela ser roubada. A minha bike companheira de tanto tempo tomou a maior chuva nos últimos dias no estacionamento do trabalho e hoje finalmente me animei com o céu azul (sim, isso acontece em Londres de vez em quando!) e resolvi resgatá-la de volta para a casa, onde ela pelo menos ficava coberta com uma lona. Parei na ioga e estacionei a magrela no mesmo lugar de sempre. Mas quando saí da ioga dei de cara com a maior chuva (sim, o tempo bom durou pouco...) e com um poste vazio na calçada...
Bom, mais uma vez: ainda bem que estou inteira e que só foi algo material que levaram embora. Perdas como estas são facilmente superadas, apesar de mais uma vez eu ter ficado indignada com a maldade das pessoas, que parece que andam me rondando para me sacanear ultimamente.
Por outro lado vale ressaltar que aqui em Londres roubo de bicicleta é um crime batante corriqueiro e que eu tenho dado sorte de não terem roubado minha magrela antes. O Edson, que trabalha comigo, já teve duas ou três bikes roubadas. E olha que o cara é profissional, chegou a gastar umas mil libras em uma delas. A minha pelo menos era mais modesta, acho que custou umas 150 libras. De qualquer forma, vou sentir falta da minha magrela, o transporte mais rápido e saudável que já tive para ir ao trabalho. Ah, e do sininho lindo em forma de joaninha que o Julien tinha me dado...

Adendo, escrito no dia seguinte:

Ontem eu estava bem brava e chateada com as pedras que ando encontrando pelo caminho, me perguntando "what the hell" nós estamos fazendo neste mundo. Amenizada a crise existencial, resolvi seguir o conselho daquela música do filme Monty Python: "Always look at the bright side of life". Se a minha bike não tivesse sido roubada ontem, eu iria olhar para a minha magrela naquela chuva forte, numa temperatura de 12ºC, sem casaco de chuva, e pensar: "Ai, ai... Não acredito que vou ter de ir para a casa pedalando..." Iria ficar encharcada, gelada e talvez pegasse uma pneumonia! Enfim, ando aprendendo que o universo nunca dá ponto sem nó!

Thursday 8 November 2007

As cores do quintal


Já falamos que nossa nova casa aqui em Londres é pequena, puro padrão inglês de "apertamento", mas ter um quintal é realmente uma grande benção aqui por essas bandas.
E nós demos sorte nesse quintal, as cores do outono e os "vizinhos" estão aparecendo.
Tudo bem, as tais cores do outono só estão antecipando o frio do fuc****** inverno que vem por aí.

Sunday 4 November 2007

Chuva de estrelas



Como avisei no primeiro post de Londres, este blog está passando por uma fase de mistura de experiências e readaptação na cidade, como nós. Como ainda tenho algumas coisas para contar do Egito, decidi dedicar este post a uma das melhores viagens que fizemos no país pouco antes de irmos embora: o Monte Sinai.
Quem me conhece sabe que não sou muito religiosa (dizem que foi lá que Moisés recebeu as Tábuas da Lei, com os Dez Mandamentos, de Deus), portanto, o que mais nos atraiu para o monte foi a escalada e a idéia de dormir no topo do local, sob um céu estrelado. O fato de o passeio ser possível de ser feito em um fim-de-semana também vinha a calhar, já que eu não tinha mais nenhum dia de folga antes de irmos embora.
Após mais de oito horas de viagem de ônibus (não contávamos com tudo isso...), já era noite quando chegamos ao pé da montanha. Jantamos e lá fomos nós montanha acima. Existem duas formas de subir: uma, que mais parece uma penitência, é subir os 4 mil degraus, todos irregulares. A outra, mais atraente para o nosso propósito, que era curtir o céu estrelado e conversar com as outras pessoas que iriam escalar conosco, era um caminho de pedra, com 750 degraus no final (nenhum pecador se livra de uma pequena penitência, né?!).



Lá fomos nós dois, uma suíça de uns 50-55 anos, e um casal formado por uma americana e um africano. Porém, antes de chegar ao pé do monte, fomos barrados pela "polícia turística" egípcia, que nos impediu de subir o monte à noite sem um guia. Tentamos argumentar de todas as formas, já que nos disseram que a subida é bastante tranqüila e nada perigosa, mas fomos obrigados a contratar um moleque beduíno para nos acompanhar. O problema é que o moleque e seu camelo logo virou um bando todo, que queria nos empurrar os camelos para subirmos sem nos cansar. A americana, que era gordinha e tinha sérios problemas de locomoção, deixou-se convencer (para nosso alívio, porque levamos 15 minutos para avançar alguns poucos metros, já que tínhamos de parar toda hora para esperá-la) e tentou subir em um camelo. O problema é que a pança da moça era tão gigantesca que não encaixava na sela do camelo... Bom, infelizmente para eles, o casal acabou desisitindo de subir o monte. Fiquei com pena, embora tenha de admitir que senti um alívio de que pelo menos iríamos chegar no topo antes de o sol nascer...
Restamos nós e a suíça. E a subida não poderia ter sido mais mágica. Logo no começo, nós três estávamos olhando para o mesmo ponto do céu, admirando aquele mar de estrelas impressionante, quando uma estrela cadente fortíssima caiu exatamente atrás do topo da montanha. Sentimos que eram as boas-vindas a uma noite especial.


Durante o percurso, podem ser encontradas "vendinhas" como esta, de beduínos, que faturam uma bela grana vendendo chá, refrigerante e chocolate, além de artesanato local.


Após cerca de 3 horas chegamos ao topo, onde alugamos colchonetes e cobertores (estava beeem friozinho lá em cima, sem falar no vento), e apenas com os olhos descobertos, ficamos deitados, olhando dezenas e dezenas de estrelas caírem do céu.
Eu não preguei o olho até o nascer do sol. Eu me senti num lugar muito, muito especial e parecia que cada estrela que caía era meu irmão me dizendo que ele está bem e olhando para nós lá de cima. Foi muito emocionante...
E o nascer do sol, uau... Sentamos em uma pedra em um dos cantos da montanha e fomos premiados com o sol, a lua e uma estrela ao mesmo tempo. Lindo!!!



Descemos o monte sob um solaço escaldante e chegamos ao pé suados, cansados, mas felizes por termos vivido momentos tão especiais. Eu nunca vou esquecer aquele céu, acho que nunca tinha visto tanta estrela na minha vida!
Infelizmente, parece que todos bons momentos no Egito têm seu preço e a volta para o Cairo foi beeeem traumática. Mas isso é assunto para o post dos taxistas, que prometo escrever em breve!