Friday 27 February 2009

Dia de panqueca



Em algumas datas importantes do ano lamento muito não estar no Brasil, especialmente no Natal e no Ano Novo. Após mais um Natal longe de casa percebi novamente que Natal sem família não tem cara de Natal. Isso mesmo passando o último com amigos maravilhosos e meu sogro, o que significou uma bela festinha com boa companhia e comida deliciosa!

E apesar de ter passado alguns Réveillons bem diferentes, como as viradas de ano na neve nas estações de esqui da Suíça e da Áustria, Ano Novo de verdade tem de ser no calor, na praia, pulando sete ondas...

Mas uma data que dispenso totalmente é o carnaval. Acho até bom ficar longe do Brasil nesta época. Pelo menos durante estes quatro dias não me importo em passar frio em Londres em vez de estar no verão delicioso do Brasil regado a samba, desfiles intermináveis e fofocas sobre as celebridades no camarote da Brahma (será que isso ainda existe?).

Além disso, aqui também temos o nosso evento nesta data - que, como a maioria sabe, é uma data religiosa, não é mesmo?

Na terça-feira antes da quarta-feira de cinzas muitos países comemoram o Dia da Panqueca - que nada mais é do que um outro nome para a nossa Terça-feira Gorda. Para os cristãos seguidores da tradição, este é o último dia antes do jejum de 40 dias que antecede a Páscoa, em que se costuma se abster de comidas que contêm gordura e ovos - que é o caso das panquecas. Para gastar o que sobrou destes produtos em casa - e para ter um último dia de prazer à mesa, passou-se a fazer panquecas nesta terça-feira.

A tradição aqui é tão forte que os supermercados têm um cantinho apenas reservado para a data, com panquecas semi ou totalmente prontas ou com os ingredientes para fazer as panquecas em casa. Lembro que até no Cairo uma britânica nos convidou para comer panquecas em sua casa-barco!

Como não sou chegada em carnaval, mas adoro uma tradição - ainda mais quando ela envolve comida gostosa - coloquei as mãos na massa e mandei ver nas panquecas na terça-feira! Panqueca de espinafre com ricota, de queijo com champignon e, de sobremesa, panqueca de Nutella!

A Mila adorou, porque não parou de se mexer durante a comilança! Ou então ela estava tentando achar um espacinho extra em meio ao mar de panquecas no meu estômago, coitada!

Wednesday 18 February 2009

Obrigado


Um tempão sem escrever por aqui.
Já rolou ano-novo, neve e a Andrea até de futebol já escreveu.

Bom, só pra dizer que hoje me tranquei pra fora de casa...é, fui abrir o portão do estacionamento do prédio pro instalador de antena da Sky e eis que bati a porta de casa sem a chave......

Que beleza, de chinelo, meia, calça jeans e camiseta nos 10 graus. O cara da Sky foi embora, claro...volta quem sabe um outro dia.

Bom, queria aproveitar para agradecer aqui oficialmente as para sempre minhas heroínas Andrea e Mila.

As bunis que saíram lá da BBC, pegaram ônibus e vieram abrir a porta de casa pra esse que vos escreve.
A Andrea ainda mais que carregou a Mila e a chave pra lá e pra cá.
Shukran

Amo vocês duas.

Tuesday 17 February 2009

As grávidas no transporte público


Na minha primeira semana em Londres o comportamento das pessoas no metrô na hora do rush me chamou a atenção: todos mergulhavam a cabeça no jornal, não importa se estavam confortavelmente sentados ou de pé, espremidos na lata de sardinhas que os vagões costumam virar nos horários mais concorridos. Ninguém olhava nos olhos de ninguém e muitos até pareciam não notar a presença de outro ser humano além de si próprio no transporte público.

Pois bem, eu sabia que quando ficasse barriguda de grávida eu não poderia contar com a gentileza dos londrinos para sentar nos chamados "priority seats", logo na entrada do coletivo. Dito e feito. Agora que fui obrigada (por uma ferrenha campanha de família, amigos e pessoas que gostam de se intrometer na vida alheia) a parar de pedalar para o trabalho, passei a tomar o ônibus. No horário do rush...

Busão lotado e obviamente todos os priority seats ocupados por pessoas que não são nem de idade, nem portadoras de deficiência, nem mães com bebês dentro ou fora da barriga. E eu me posiciono estrategicamente entre um banco e outro, praticamente esfregando minha barriga no jornal da londrina sentada em um dos assentos. Nada. Nem uma levantadinha de sobrancelha para ver se alguém ali precisava do assento mais do que ela. E foi assim dia após dia. Eu ainda não falei nada, porque sou uma daquelas grávidas que não dá o braço a torcer e nem acho que estou naquela condição insuportável de ficar de pé. além disso, após algumas paradas, sempre acaba vagando um lugarzinho aqui ou ali.

Mas que dá saudades do Brasil, dá... Lembrei da mania que nós, brasileiros, temos de até se oferecer para segurar a bolsa de quem está de pé em um ônibus lotado. Quem vier para cá, por favor, não tente fazer isso aqui, porque é capaz de alguém chamar a polícia!

A indiferença aqui é tamanha que cheguei a me perguntar se os casacões de inverno escondem minha barriga de mais de sete meses e muitos acabam não querendo correr o risco de ofender uma mulher oferecendo seu lugar sem ela estar grávida. Afinal, panças de cerveja femininas não faltam por aqui!

Porém, eis que em duas ocasiões alguém acabou oferecendo seu lugar para sentar. A primeira foi uma moça no metrô, o que restabeleceu minha fé de que existe, sim, pessoas com almas boas nesta cidade!!! Tenho certeza de que a moça não era inglesa, no entanto... Bom, como tinha passado boa parte da tarde sentada e minha bunda ainda estava quadrada, tive a cara-de-pau de recusar a oferta! O segundo foi um indiano, também no metrô, que, aliás, estava sentado em um dos priority seats. Após cerca de cinco paradas com a cabeça enfiada no jornal, ele levantou a cabeça, talvez para mudar de posição e continuar lendo, quando me viu. Imediatamente, ele me perguntou se eu queria sentar e eu aceitei (neste dia confesso que estava bem cansada...). Mas, logo em seguida, fez questão de me dar uma bronca! "You should have said something!" Pois é, é assim que as coisas funcionam aqui. Se você não abrir a boca ou rodar a baiana, as pessoas acham que não tem obrigação de serem gentis.

Friday 13 February 2009

O Chelsea perdeu uma torcedora

Como vocês devem saber, o fanático por futebol do casal é o corintiano do Julien e o pouco que entendo do assunto aprendi (e continuo aprendendo) por osmose. Portanto, me aventurar a escrever este blog é realmente um sinal de que fiquei revoltada com a demissão do Felipão do Chelsea e com o que andaram falando sobre ele nesta semana. Para quem está se perguntando por quê não pedi para o Julien escrever este post, aviso que a desculpa anterior dele de "falta da inspiração" esta semana virou mesmo a de muito, muito trabalho!

Voltemos ao Felipão. Logo depois da demissão dele chegaram a dizer que Luiz Felipe Scolari não sabe dirigir clubes, apenas seleções. Aqui na Grã-Bretanha, muitos se esquecem que existe vida abaixo da linha do Equador, portanto, muitos acham que o Felipão foi "apenas" técnico das seleções brasileira e portuguesa e ignoram o fato de ele ter sido campeão em vários torneios importantes (pelo menos para os que vivem abaixo da linha do Equador) com o Grêmio e o Palmeiras...

Um jornal britânico online, o Mirror, elencou dez motivos que fizeram Luiz Felipe Scolari ser demitido, entre eles a perda de apoio dos fãs e dos próprios jogadores, que estariam questionando as táticas e as substituições feitas por ele.

Além disso, o time comandado por ele não estaria perdendo apenas para os grandes clubes, mas também para times menores.

Houve críticas também em relação à insistência em apostar em alguns jogadores, como em Deco, que foi comprado após o que o jornal classificou de uma péssima temporada no Barcelona.

Felipão também teria se tornado um "técnico azarado", já que jogadores importantes do Chelsea se machucaram ou não estavam em sua melhor forma física. Além disso, Felipão teria perdido uma das maiores estrelas do futebol britânico atual quando seu contrato com o Chelsea já estava praticamente fechado: Robinho (que, aliás, mostrou na noite desta terça-feira que o Manchester City fez bem em gastar milhões de libras para convencê-lo a ir para o 'pequeno' clube).

O técnico brasileiro também teria parado de se comunicar com os fãs. Deixou de conceder entrevistas antes e após os jogos e sua dificuldade em se expressar em inglês teria prejudicado seu poder de convencimento de que estava tomando as decisões corretas.

Talvez eu concorde um pouco com o problema de comunicação. Sou uma grande fã do Felipão e sempre que uma entrevista sua era transmitida pela televisão, eu parava para assisti-la, porque adorava seu jeito de falar inglês e como ele ficava mais doce ao se expressar na língua estrangeira. Mas talvez os fãs quisessem um técnico mais "durão" e este jeitinho dele - apesar de fazer eu gostar ainda mais do Felipão - tenha transmitido um pouco de insegurança.

Para quem ficou curioso, aqui vai um trecho de uma das últimas entrevistas coletivas de Felipão pelo Chelsea.

Seja qual for a razão, um outro jornal, o 'Independent', trouxe uma avaliação completamente diferente do que ocorreu na última segunda-feira: o que foi classificada de "brutal demissão" de Felipão teria sido resultado dos caprichos de um bilionário russo, Roman Abramovich, o dono do Chelsea.

O brasileiro seria apenas mais um na lista de técnicos dispensados pelo russo quando o time apresentava sinais de fraqueza. Segundo o autor da coluna do jornal, Abramovich também demonstrou insatisfação com um dos antecessores de Felipão, o português Jose Mourinho - ainda considerado um ídolo entre muitos torcedores do Chelsea - e começou a se intrometer em suas decisões como técnico. Tudo indica que a decisão de mandar Felipão embora tão repentinamente tenha partido unicamente do milionário.

O colunista diz que o que Abramovich ainda não aprendeu foi "deixar um técnico forte comandar", pois é assim que um treinador conquista respeito entre os jogadores, os fãs e a diretoria do clube.

Vou sentir falta do Felipão. E vou torcer contra o Chelsea daqui para a frente!

Tuesday 3 February 2009

Primavera abaixo de zero


No domingo começou a primavera fora de época. Esfriou, esfriou mais e... começou a nevar!!! Nevou a noite toda e na segunda-feira Londres amanheceu toda branquinha, com neve cobrindo o Big Ben, a Tower Bridge, congelando a fonte de Trafalgar Square e, mais importante, transformando o lindo parque que vemos das janelas de casa (aguardem outro post sobre nossa enésima mudança nesta cidade!) em um tapete branco para crianças, cachorros e os londrinos maravilhados com a maior queda de neve dos últimos 18 anos se divertirem.
O astral da cidade estava diferente. Assim que você saía de casa já se deparava com uma pessoa sorridente, olhando em seus olhos – duas atitudes raras aqui -, como se comentando: “Isso não é incrível?”. Parecia a chegada da primavera, quando todos afugentam o mau humor do inverno e são contagiados por uma energia que faz as pessoas lembrarem como é bom viver, o que acaba deixando todos mais felizes e simpáticos uns com os outros.



O Julien e eu já estávamos eufóricos na noite de domingo e como eu iria entrar cedo no trabalho propus a ele, brincando, que ele fosse comigo até o ponto de ônibus às 8h de segunda-feira para aproveitarmos a neve no parque. Ele também não levou a proposta a sério. Mas quando acordamos e vimos tudo, tudo branco, vi ele vestir a calça e sair comigo na maior empolgação! Só neve para arrancar o Julien da cama – e ainda para fora de casa em temperaturas congelantes! – a essa hora! As redondezas da nossa casa pareciam um resort de esqui, com camadas gordas de neve em cima de cercas, plantas, mesas e bancos de pubs, telhados, LINDO!
Quem está acostumado com neve deve estar pensando: “Êta coisa de brazuca maravilhado”, mas a verdade é que todos estavam impressionados com a neve e vimos muitos ingleses indo para o parque de galochas (afinal, aqui eles estão muito mais preparados para chuva do que para neve) para tirar foto e muitos outros andando para o metrô (foi a primeira vez em “living memory” que o serviço de ônibus de Londres foi totalmente suspenso por medidas de segurança) comentando o evento com amigos por celular.
Aliás, durante minha caminhada até o metrô (me precavi com bota de neve, mas fui pisando sobre ovos de preocupação para não cair com meu barrigão no chão congelado) pensei comigo mesma que algumas pessoas provavelmente não olham pela janela antes de sair de casa. Estava pelo menos -1ºC e vi uma mulher de sapatilha sem meia, uma outra de bota de salto alto (que despencou no chão na minha frente – e o bom humor era tamanho que ela começou a rir!), algumas pessoas de All Star e vários executivos da City sambando no gelo em seus sapatos sociais.
Estas foram as pessoas que, como eu, se esforçaram para chegar ao trabalho, pois pelo menos um quinto dos trabalhadores acabou ficando em casa. Além de todos os ônibus terem parado, os metrôs funcionavam com inúmeras estações fechadas e os trens também tinham sido suspensos durante boa parte do dia. Os serviços de táxi estavam indo à loucura com tantos pedidos e na hora do rush da manhã ninguém mais conseguia achar um carro que o levasse até o trabalho.
Quem adorou tudo foram as crianças, afinal todas as escolas fecharam e a criançada foi em massa para a rua e os parques fazer guerra de neve, andar de trenó improvisado com cachorros fazendo o esforço de puxar, descer pequenas ladeiras de esqui ou snowboard e fazer muitos bonecos de neve.
Obviamente, sempre tem de ter mal-humorado de plantão, reclamando da falta de preparo da cidade para um evento como este (que aconteceu há 18 anos pela última vez!), pessoas olhando para os flocos de neve caindo incessantemente e prevendo o caos para voltar para a casa, mas eu estava achando tudo aquilo muito mágico e inesquecível. Eu e milhares de londrinos. Basta ver a quantidade de bonecos de neve espalhados pela cidade!



(texto Andrea, fotos nossas)