Monday 3 May 2010

Um caso de amor e ódio



Normalmente, assim que um turista chega a Londres ele se depara com a maravilha do metrô - ou o "tube", como é chamado aqui - que o leva para todos os pontos que ele quer conhecer na cidade (isso depois de um certo período de adaptação em que se corre o risco de pegar o trem para a direção oposta ou mesmo para a direção certa, mas rumo à bifurcação errada).

Tenho lembranças saudosistas da Central Line, que me levava de Queensway a Holborn todos os dias em 2004, quando cheguei a Londres, e até hoje quando uso a linha e ouço a voz gravada que anuncia as estações meu coração se enche de emoção e alegria, exatamente o que senti quando cheguei aqui na cidade. Também me emocionei a primeira vez que ouvi a famosa gravação "Mind the gap" no metrô e até gravei a frase e outros sons na estação para uma de minhas matérias de rádio.

Passados seis anos, tenho de confessar que a emoção se restringe à Central Line, porque a cada dia que entro no metrô percebo que "nossos santos não batem". Quando comecei a andar de bicicleta, abandonei o metrô e o ônibus. Era muito mais rápido chegar aos locais de bike, driblando o trânsito e ainda aproveitando para exercitar o corpo e respirar ar puro. Mas depois da Mila voltei a ser freguesa do ônibus - mas já estou começando a pensar em comprar uma daquelas cadeirinhas para colocar na garupa da bike para transportá-la, porém não conto muito com a simpatia do Julien para isso.

Evito o metrô por vários motivos: primeiramente porque, apesar de a cidade ser bastante simpática para cadeirantes de rodas e carrinhos de bebê, o metrô foge à regra. Existem pouquíssimas estações com elevador e sempre tem alguma escada de degraus entre uma escada rolante e outra. Além disso, muitas vezes você tem de trocar de trem e fazer vários "desvios" por baixo da terra para chegar em algum lugar onde você chegaria com um simples ônibus em linha reta. Também é muito mais caro do que o ônibus. E confesso que às vezes me bate um pequeno medinho - e isso vale para os dois meios de transporte - de um fanático se explodir lá dentro. No metrô o medo é um pouco maior, talvez por você se sentir encurralado, dentro de um túnel, longe da luz do dia e sem saída.

Outro motivo, já externado acima, é que o metrô parece sentir que eu o evito. Quando nossos caminhos são obrigados a se cruzar, sofro. Tento pegar o trem (normalmente já estou atrasada e é por isso que recorro a ele) e me deparo com a infeliz surpresa de ele chegar lotado a ponto de não ter espaço nem para minha bolsa. Espero o próximo. Também lotado. Espero o próximo. Lotado, mas cabe a bolsa. Espero o próximo. Lotado, mas já sem paciência me espremo entre os passageiros e, suando no meio de tanta gente e coberta de casacos sem poder me mexer naquela sauna, fico me perguntando por que não saí mais cedo de casa... E a gente ainda paga caro...

Ontem o metrô resolveu me castigar de novo. Saí com folga para a minha yoga e sentei no trem. A algumas centenas de metros da minha estação de destino, o trem pára. E não se move durante vários minutos. Pronto. Já perdi a respiração do começo da aula. A condutora, altamente educada como a maioria dos britânicos, explicou que houve um problema na estação seguinte e que nós iríamos voltar a andar "shortly" (sim, eles são assim, beeem específicos...). O shortly levou 20 minutos. E não só perdi a respiração inicial da aula, como também a primeira pose e ainda tive de suplicar para poder entrar no estúdio após 15 minutos de atraso.

Uma hora e meia depois, devidamente relaxada do estresse para chegar na aula, lá vou eu encarar o meu carma para voltar para a casa, onde tinha de chegar logo, já que a Mila precisava mamar antes de dormir. Sim, aconteceu de novo. O trem resolveu "dar um tempinho" na estação de Euston...

O metrô de Londres pode ser uma maravilha para os turistas, que se perdem (com todo o direito) nos ônibus. Pode levar muita gente ao trabalho, é a forma mais barata para ir ao aeroporto de Heathrow e nos salva em dias de atraso. Mas, desculpe, tube, sempre que possível prefiro me jogar nos braços da minha magrela ou do ônibus.