Monday 24 September 2012

Novo tripulante a bordo!



Culpa do Facebook e do Oliver. Várias pessoas que não estão no Facebook ainda não receberam notícias da chegada de mais um integrante sapeca, buni e escandaloso na nossa família! O Facebook requer apenas a publicação de uma foto e uma frase. Fácil e rápido. Aqui no blog a coisa é mais trabalhosa, é necessário ter tempo para contar como tudo aconteceu. E pegue um recém-nascido (agora já com 4 meses, mas se portando como um recém-nascido durante a noite), adicione uma menina de 3 anos e meio e voilá: o resultado é falta de tempo!

Sei que a maioria já sabe que o nosso Oliver chegou, no dia 25 de maio deste ano, mas acho que tenho obrigação de deixar sua chegada registrada aqui, como fiz com muitos dos outros momentos importantes da nossa jornada nos últimos anos!

Caso haja interesse, deixo aqui minha segunda experiência de parto em Londres. Sei que muita gente não dá a mínima para isso, principalmente os homens - que nunca vão ter um outro ser humano saindo de dentro deles - mas talvez algumas amigas minhas estejam interessadas.

Só para refrescar a memória de vocês, meu primeiro parto acabou em uma cesárea de emergência, bem diferente do parto na água, sem anestesia que eu tinha imaginado. Pois desta vez tinha decidido que tentaria tudo de novo. Com uma diferença: desta vez eu tinha em mente que tudo poderia acabar de uma forma diferente da desejada. Aqui, diferentemente do Brasil, os hospitais fazem a maior campanha pelo parto normal após cesárea, o que já me deixava na vantagem para seguir meus planos. Minha primeira dificuldade surgiu quando pedi que tivesse o bebê na água, algo que o hospital não quis permitir logo de cara, pois o argumento era que desta vez o bebê precisava ser monitorado constantemente por causa de risco de ruptura interna da cicatriz da cesárea (uma bobagem, porque a possibilidade de isto ocorrer é muito menor do que várias outras complicações de primeiro parto e nem por isso existe monitoramento constante nesses casos). Mas o problema foi contornado quando descobriram que havia uma forma de monitorar o bebê constantemente dentro da água.

Comprei um livro de hypnobirthing (hipnose para parto), um CD, e fiquei treinando as técnicas de relaxamento e respiração durante toda a gravidez. Chegou o dia em que minhas contrações começaram, quarta-feira, dia 23 de maio. Elas continuaram no dia 24, aumentaram depois de eu dar um passeio com a minha mãe - que desta vez conseguiu chegar antes do nascimento (com a Mila ela chegou com um dia de atraso) - e no começo da tarde já estavam vindo a cada 3 minutos, com certa intensidade. Lá fomos nós de táxi para o hospital! Confesso que estava empolgada!

Cheguei com uma dilatação de 4 cm, o que queria dizer que pelas regras do hospital eu ainda não podia entrar na banheira (o que pode acontecer é a água quente diminuir as contrações e o parto demorar bem mais). Ok, faltava só mais um centímetro para isso, mas a medição seguinte era apenas dali a 4 horas! As quatro horas seguintes pareciam 40. As contrações vieram com força total. E percebi que não estava entre o grupo de mulheres descritas no livro de hypnobirthing que não sentem dor na hora do parto. A dor era tamanha que me bateu desespero e achei que não ia conseguir continuar com aquilo sem a ajuda de algum método para aliviar meu sofrimento. Mas sou ariana cabeça-dura e tinha certeza que, se controlasse minha respiração e minha mente, eu ia conseguir aguentar o tranco! Tomei uns remédios homeopáticos e lembrei de uma história de um monge que li poucas semanas antes do parto. Ele estava meditando numa casa no meio do mato, em um lugar sem civilização por dezenas de quilômetros, e sofria da mais terrível dor de dente que ele já sentiu. Ele tentou de tudo para fazer a dor passar, mas ela não passava. Foi quando ele decidiu aceitar a dor. Deixar a dor entrar em seu corpo. Ele dormiu e acordou sem dor de dente.

Voltando à minha sala de parto, fechei meus olhos, e ouvindo a música do CD do hypnobirthing fiquei falando para mim mesma: "Pode entrar, dor. Faz o que você tem de fazer para o meu bebê sair." E repetia as frases que aprendi na minha aula de parto ativo com yoga: "Meu corpo sabe dar à luz. Meu bebê sabe como nascer." E consegui chegar num estado de paz. A dor estava lá, mas bem mais suportável, e cada vez que uma contração vinha eu sabia como controlar seus efeitos. O Julien me chamou de "master of pain", hahahaha!

Chegou a hora da segunda checagem de dilatação. Eu tinha dito à parteira que não queria que ela me dissesse o número de centímetros, apenas se eu poderia finalmente entrar na banheira. E ela disse: "Você foi muito bem, Andrea, está completamente dilatada!". E minha única reação foi: "Então posso entrar na banheira?" A parteira hesitou por um instante, pois sabia que começar a armar a banheira inflável neste momento iria dar o maior trabalho, mas fez a minha vontade.

Foi aí que a coisa toda desandou. A infeliz não sabia como montar a banheira, chamou ajuda, acenderam-se as luzes do quarto, começaram com um baita barulho de conversa sobre como a banheira deveria ser armada, e depois de desvendado o mistério um barulho horroroso de aspirador de pó começou para inflar a dita cuja. O estrago estava feito. Saí do meu momento zen, e as minhas contrações começaram a diminuir (às vezes acho até que foi uma forma de eu atrasar meu parto para poder entrar na água). A banheira estava enchendo a passo de lesma, com uma reles mangueirinha, e quando chegou num nível ridiculamente baixo, a parteira falou que eu poderia entrar na banheira. O que aconteceu em seguida foi tudo o que eu não queria. Minhas contrações diminuíram ainda mais e a parteira disse que eu deveria começar a fazer força para o bebê sair. Minha filosofia era contra fazer força sem sentir o corpo pedindo isso, mas após algumas horas uma médica me deu um ultimato: ou eu começava a "push" (empurrar) o bebê ou meu parto acabaria numa cesárea ou num fórceps. Com medo do pior, decidi começar a empurrar, só que da forma como eu havia aprendido no livro de hypnobirthing, "respirando o bebê para fora". A parteira estava ficando nervosa e repetia que assim ele não sairia a tempo e achou melhor eu sair da banheira.

Na cama, ela pediu para eu ficar naquela posição de dar à luz de cinema, deitada de barriga para cima, com os pés em apoios e pernas dobradas. Me recusei terminantemente de ficar naquela posição, que é contraproducente por ser completamente contrária à gravidade. Me ajoelhei na cama e me apoiei na cabeceira elevada e continuei com o processo de "push", agora já da forma que a parteira queria, pois estava desesperada para evitar um parto com instrumentos. Eu não parava de tossir, pois estava doente, com uma tosse incessante havia duas semanas, algo que certamente tirou parte da energia que eu precisava naquele momento.

Foram 7 horas no segundo estágio. E o Oliver não aparecia. Segundo a médica, meu tempo para tentar um parto sem instrumentos tinha se esgotado. O Oliver estava posicionado muito para cima para sair com a ajuda de ventosa e muito para baixo para sair por cesárea. Ele teria de ser arrancado de dentro de mim da forma mais traumática possível, com fórceps.

E lá fui eu para a sala de cirurgia. Tive de tomar uma anestesia, pois se o fórceps não funcionasse, uma cesárea de emergência teria de ser realizada. Tínhamos 3 tentativas com o fórceps. Uma parteira me avisava quando as contrações estavam vindo (já que eu não sentia mais nada) e eu empurrava enquanto a médica puxava a cabeça do coitado. Primeira tentativa sem sucesso. Segunda tentativa e... nada. Terceira. Era a última. Fiz a maior força que consegui fazer, e de repente vi um bebê sendo lançado em cima de mim. Era o Olli, todo ensanguentado, amassado, enrugado e marcado. Mas era o meu bebê. Para mim, o ser humano mais lindo da face da terra naquele momento. E chorei. De alegria do milagre de tê-lo em meus braços. De cansaço das 30 horas de parto. De decepção de mais uma vez ter tido um parto ruim. De culpa de não ter tido força para empurrá-lo para fora naturalmente. De dó de ter feito o Oliver passar por uma experiência tão ruim ao chegar neste mundo.



Mais uma vez a história se repetiu e, assim como a Mila, o Oliver teve de permanecer internado uma semana recebendo antibiótico na veia por causa de uma suposta infecção que até hoje não sei se ele realmente teve. Foi um sufoco cuidar dele sozinha (o hospital não permitia acompanhantes, apenas no horário de visita), com uma episiotomia e me sentindo como se eu tivesse corrido cinco maratonas.

Graças à Arnica que meu homeopata recomendou tomar logo após o parto, os hematomas e as marcas do forceps já estavam bem melhores no dia seguinte ao nascimento!





Mas o que conta é que aqui está ele. Saudável, lindo e sorridente. E se um dia eu me questionei se poderia amar alguém da mesma forma como amo a Mila, qualquer resquício de dúvida sumiu quando vi aquele serzinho indefeso nos meus braços pela primeira vez. Pedindo amor e atenção. Coisas que vou dar para ele ilimitadamente até o fim dos meus dias neste mundo.