Friday 26 October 2012

Tired of London?

Parece que foi uma vida inteira.

Desembarquei em Londres há pouco mais de oito anos, com seis malas (vale ressaltar que não eram apenas minhas, eram do Julien também, que chegaria dois meses depois de mim. Ah, e algumas destas malas eram apenas pequenas bolsas...). Naquela época, eu E era uma jornalista cheia de sonhos, muitos deles que acabaram se realizando.

Comecei a trabalhar na BBC Brasil, que sem dúvida virou o auge da minha carreira, e cobri o conclave do papa, o G8, eleições argentinas, americanas, fiz várias reportagens especiais, fui correspondente no Cairo, viajei, viajei e viajei.

E não foi só a trabalho. Um dos nossos maiores desejos ao morar na Europa era conhecê-la e assim o fizemos! A Alemanha virou nossa ponte aérea e a França não ficou muito atrás. Espanha, Portugal, Itália, Bélgica, Holanda... E Londres foi nosso trampolim para a Tailândia, Estados Unidos e vários outros países mais distantes.

A cidade, que no primeiro inverno nos chocou com seu vento traiçoeiro e cortante que chegava a doer no osso, e nos maravilhou com os flocos de neve que vimos caindo silenciosamente pela primeira vez, foi virando cada vez mais a nossa casa. As ruas com casas vitorianas enfileiradas dos dois lados não pareciam mais iguais umas às outras. Os números dos ônibus começaram a ganhar apelidos, como o "três-oitão" e já não precisávamos analisar o complexo e emaranhado mapa do metrô para chegar aos endereços preferidos.

Mudar de endereço, aliás, parecia ter virado um dos nossos hobbies aqui. Moramos em 7 lugares diferentes e lembro que na nossa terceira mudança eu tinha me prometido que a seguinte seria apenas quando voltássemos ao Brasil... Yeah, right.

Também passei a não acreditar mais na nossa decisão de voltar, já que toda vez que discutíamos o assunto algo acontecia - ou nós criávamos uma situação - para ir ficando "só mais um pouquinho"...

O que nos prendia aqui? O clima não era, já que este país tem o dom de ter um verão relativamente decente a cada 5 anos. A comida? Inglesa, especificamente, não. Mas mundial, existente em qualquer bairro londrino, aí sim. Indiana, tailandesa, chinesa (nããããããoooo, nada parecido com os "China in Box" do Brasil, muuuito melhor!), vietnamita, ganesa, alemã, francesa, japonesa, árabe, israelense, e tantas outras! Ah, e os supermercados... Prateleiras lotaaaadas de seleções intermináveis de todos os queijos de cheiros, cascas e cores variados, quiches maravilhosos sempre com algum tipo de promoção para ser impossível levar um só, peixes, frutos do mar, chocolate Lindt a preço de banana, banana a preço de chocolate Lindt, limão a preço de caviar, e meu querido e amado iogurte grego Total, o melhor iogurte da face da terra.

Seriam os amigos que fomos fazendo ao longo destes anos que deixavam nossa volta mais difícil? Também uma forte possibilidade. Muitos chegavam aqui e voltavam pouco depois, o que doía no coração, pois no momento em que você sentia ter conquistado um amigo para a vida toda, ele te abandonava, prometendo que ia manter contato e nunca mais mandava sinal de vida.

Mas muitos ficaram. Alguns são de longa data, de muito antes de pousarmos aqui, onde a amizade só cresceu. Outros apareceram na nossa vida nas mais inusitadas situações. E dói deixá-los aqui. Me dá um aperto imenso pensar que alguns talvez eu só veja daqui a alguns anos. Mas sei que vou vê-los novamente.

Seria a yoga que comecei a praticar, sem expectativa nenhuma nem perspectiva de passar do primeiro mês de aulas, já que a mensalidade era caríssima? A Bikram Yoga me fisgou de mansinho e a vontade de voltar ao estúdio e fazer mais uma aula e mais uma e mais uma passou a ser incontrolável. O resto vocês já sabem... ;-)

Em 2009 chegou a Mila e passamos a ser uma família. Ela começou a ir para a creche, que foi tão maravilhosa para ela que passou a ser outro motivo para não querer mais ir embora. Será que no Brasil ela teria algo tão bom? Será que não seria melhor ela ir para a escola aqui a vida inteira?

Aí veio o Oliver, em pleno Ano do Dragão, que, porém, não foi muito promissor economicamente para nós aqui. E assim fomos, aos poucos, sendo empurrados para a decisão que desta vez tinha cara de ser para valer. Chegou a hora de voltar.

Deixo Londres em pouco menos de uma semana, com 26 caixas enviadas por navio e outras seis malas (desta vez, todas grandes. Mas, em minha defesa, agora há coisas das crianças também, além das do Julien!). Além de jornalista, virei instrutora de yoga, com novos sonhos, que também espero que se realizem.

E, além da querida família, que vai estar fisicamente perto de nós novamente (já que com o skype nunca nos desgrudamos totalmente), sabemos que temos outros amigos, daqueles para a vida toda, que sempre estiveram à nossa espera.

Será que foi a decisão certa? Será que não deveríamos ficar por aqui? A dúvida me atormenta quase que diariamente, mas só vou saber quando acontecer. E sei que o mais importante de Londres vai junto comigo no avião. A minha família. Onde quer que eu esteja, se estiver com meus outros três quartos, vou me sentir em casa.