Saturday 12 January 2008

É tempo de consumir



Nada como um sabadão frio (porém ensolarado, milagre!) e uma gripe que já vem me deixando imprestável há três dias para escrever o primeiro post de 2008. Foi um final de ano corrido, com a primeira visita dos meus pais a Londres - e conseqüentemente a corrida insana contra o tempo para dar-lhes uma idéia das coisas legais que descobrimos aqui nos últimos 3 anos e meio - e com a viagem de Ano Novo aos alpes austríacos para aplicar os ensinamentos de esqui do ano passado. Para quem não sabe, aprendemos a esquiar na virada de 2006 para 2007 e esta agora foi a nossa segunda tentativa. A evolução foi notada na pele: no ano passado, voltei para a casa parecendo um dálmata, com mais de 30 manchas roxas, azuis, verdes e amarelas pelo corpo. Este ano... 5 apenas! Ok, ok, e um joelho machucado. Mesmo assim, fechei com saldo positivo!



Diferentemente do Brasil, onde o Natal e o Ano Novo são a cerimônia de abertura de mais uma temporada deliciosa de verão, aqui as festas são o único ponto alto do inverno. Portanto, quando a época de festas termina, começa um período melancólico de hibernação. Mas os habitantes do hemisfério norte encontraram uma forma bem feminina de afugentar a depressão: a temporada de liquidações! Tudo começa logo depois do Natal, dia 26 de dezembro, no chamado Boxing Day. O nome sempre nos intrigou e o Julien tinha encontrado uma explicação bastante condizente com a realidade atual: a troca de caixas de presentes, ou seja, o dia em que você troca aquilo que não te serviu (em tamanho ou em gosto). Mas a Wikipédia dá uma outra explicação para o Boxing Day, que dataria da Idade Média e seria o dia em que as pessoas mais abastadas dão presentes aos empregados ou às pessoas de classes sociais mais baixas. Porém, a prática parece ter sido totalmente esquecida numa das terras mais consumistas que conheço e atualmente todos estão muito mais preocupados em aproveitar o dia para dar presentes para si mesmo.


As "winter sales", no entanto, têm seus atrativos. E a abertura não está entre eles. Quando cheguei em Londres prometi a mim mesma que um dia eu enfrentaria o frio e a escuridão de uma madrugada do dia 26 só para participar daquele momento que TVs do mundo inteiro exibem, de pessoas na porta de lojas de departamentos como Harrods e Selfridges correndo e se acotovelando entre o mar de gente para garantir bolsas e outros artigos de marcas caras (muitas vendidas posteriormente no eBay). Levanto as mãos para os céus em agradecimento por meu espírito consumista não ter chegado a tal ponto...
Mas, vamos às vantagens: diferentemente do Brasil, a palavra liquidação realmente é levada ao pé da letra. Nada de anúncios de "descontos de até 50%" e entrar na loja e perceber que apenas a peça de roupa mais encalhada e horrível está pela metade do preço enquanto que todos os outros artigos têm descontos de no máximo 10%. É na temporada de winter sales que tenho coragem de entrar em lojas que considero caras o ano todo e me dar ao luxo de comprar peças de qualidade por um preço que não desperta em mim o sentimento de ter sido explorada. Além disso, existem as irresistíveis barganhas: peças que custam três ou até quatro vezes menos do que custavam até o dia 24 de dezembro. Até agora consegui me conter e nem passei perto das lojas (apesar de já ter comprado um casaco de frio pela metade do preço mesmo antes da temporada de liquidações, já que várias lojas andaram se antecipando nos descontos para aumentar as vendas de Natal), pois é praticamente impossível evitar a compra de algo desnecessário só pelo prazer de falar que você comprou por quatro vezes menos do que o preço original...
E quem acha que as liquidações se limitam a bolsas, sapatos e roupas está enganado. Para quem está montando ou redecorando a casa, lojas de móveis veiculam anúncios tentadores, como sofás de 999 libras por 499. Para quem quer preparar a lista de leitura para 2008, lojas de livros exibem descontos em grande parte das obras, incluindo best-sellers e lançamentos. Até supermercados, como uma das maiores redes britânicas, o Tesco, propagandeiam produtos pela metade do preço.
As liquidações duram "até o fim dos estoques" ou normalmente até o fim de janeiro, sendo que os preços vão ficando cada vez menores. E se nunca participei do começo das winter sales, sempre dou um pulinho nas lojas no final, já que é hora da "xepa" e o que sobrou pode não ser o objeto de desejo de muita gente, mas às vezes é justamente o que faltava no meu guarda-roupa. E por um preço inacreditavelmente irrisório!

1 comment:

  1. Eu AMO as liquidações daqui! Mas nesse ano também não comprei nada...vamos combinar de vasculhar a xepa juntas!

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