Wednesday 26 December 2007

Up my street


Seven Sisters Road, um dia em dezembro



Camden Road, 25 de dezembro

Mais um Natal sem neve 2

É, foi sem neve e hoje, dia 25, choveu o dia todo.
Mas foi show! Rolê com os sogros em Londres, Alemanha e Belgica - tudo de trem e como diz o mineiro: "Eita trem bão!"

E pra ilustar o texto da Andrea e o meu:
Vitrines, Alemanha e Coral de Natal....



Ah, sugestão altamente recomendada para quem pegar o Eurostar entre Londres e o continente um dia na vida : Champagne Bar em St. Pancras, um só já dá pro gasto.
http://www.viewlondon.co.uk/pubsandbars/st-pancras-champagne-bar-review-26924.html

Sunday 16 December 2007

Mais um Natal sem neve

Desde que nos mudamos para Londres, sonho com o famoso "White Christmas". Como estamos no hemisfério Norte, onde o Natal tem cara de Natal e combina com todas aquelas comidas calóricas que insistimos em comer mesmo no verão brasileiro, sempre achei que finalmente iria ter um Natal no aconchego de uma casa quentinha, com neve do lado de fora. Mas todos os anos, quem aposta suas libras nas casas de apostas de que vai nevar no Natal perde dinheiro. A previsão deste ano é de 9ºC de temperatura e chuvinha. Delícia...
Como cresci com a tradição natalina alemã, aprendi a achar essa época do ano extremamente especial e mágica, mesmo depois de descobrir que Papai Noel não existe. E sempre me pego ficando emocionada com pequenas coisas que fazem despertar o famoso espírito de Natal. Apesar de Inglaterra estar longe de ser Alemanha (este ano, aliás, finalmente, vamos a típicos mercados de Natal - NA ALEMANHA), isto não é muito difícil: são as vitrines com ursinhos enfeitando a casa para o Natal, as luzinhas em inúmeras árvores secas e sem folhas por causa do frio, as bandas e corais se apresentando na calçada, as barracas de mulled wine, fora as intermináveis festas de confraternização de fim de ano - que sempre acabam em ressaca no dia seguinte. Destas últimas eu me livrei este ano, já que meus pais chegaram para nos visitar durante duas semanas!
O Natal inglês também tem suas esquisitices que só quem cresceu aqui entende. O que você diria de um monte de engravatados sérios, sentado numa mesa de pub, com coroas de papel estilo "três reis magos" na cabeça? Se você respondeu "estranho" ou talvez mesmo "ridículo", só nós achamos isso. Aqui é algo absolutamente normal. Outro dia a minha amiga Carol, que mora aqui há cerca de dez anos, colocou uma coroa dessas na cabeça sem a mínima vergonha. Será que um dia eu vou chegar a esse ponto? Outra esquicitice do povo daqui são os crackers. São uns pacotinhos em forma de uma bala gigante, que duas pessoas puxam, uma de cada lado, até o negócio abrir e revelar a lembrancinha mais inútil do mundo, como um mini-cubo mágico, um chaveiro em formato de hipopótamo ou uma caneta de plástico que dura, no máximo, uma reportagem. Confesso que esta tradição vai entrar na nossa casa este ano, afinal, precisamos apresentar o Natal inglês para meus pais!



Christmas pudding - as aparências podem enganar...



Mas não vamos chegar ao ponto de servir uma ceia típica, porque aí já é apelação... Couve de bruxelas e peru são os pratos que se salvam. Mas aí tem o Christmas pudding, algo que o Thomas, que trabalha comigo, nunca teve coragem de comer em mais de dez anos de London. Eu que não me arrisco! Vamos aproveitar o frio para comer algo calórico e impossível de fazer no Natal brasileiro (embora minha mãe já tenha feito pior, com um fondue em plena noite de Ano Novo): raclette.

Sunday 9 December 2007

Knockout

Mais uma porrada nos ingleses…agora no boxe.
O lutador Ricky Hatton, lá de Manchester, era “A esperança” de uma vitória no esporte internacional nesse ano de 2007.
Invicto, um pit bull e típico representante da classe "porrada" inglesa com frases como: "Me fight will be good, me is ready". Lembra do Brad Pitt em Snatch? Mais ou menos aquilo:">
Lutando em Las Vegas, Hatton enfrentou o atual campeão dos leves, o americano Floyd Mayweather.
Mais uma vez, não deu.
Entre 8 a 10 mil ingleses viajaram para Las Vegas e o pay-per-view da Sky vendeu como água com a luta acontecendo na madrugada de sábado para domingo no horário daqui. A semana toda só se falou nessa luta, me lembrou nossos tempos de Maguila.
Mais uma vez, não deu.
No décimo assalto o querido Hatton beijou a lona e os ingleses mandaram um beijo para qualquer coisa em 2007.

A pergunta é: seriam os ingleses Corinthianos?

Wednesday 28 November 2007

Pastel de feira




Quando se mora muito tempo fora do Brasil (sei que o tempo é relativo, mas para mim, três anos já é muito tempo…), a tendência é ficar com saudades de várias comidas típicas da nossa terrinha, até mesmo aquelas que a gente não costumava comer quando morava no Brasil.
Nos últimos anos, os brasileiros de Londres já puderam matar a vontade de vários vícios, como arroz e feijão com farinha de mandioca, coxinha e até empadinha. Mas faltava um bom pastel, daqueles fresquinhos que comemos na feira, acompanhados de um caldo de cana. Como esta terra não é muito adequada para plantação de cana, o caldo ainda está faltando, mas o pastel chegou!
Não bastasse o pastel ser bom e relativamente barato (1 libra), ele é genuinamente de feira, já que a família do pasteleiro tem mais de 40 anos de tradição em feiras na região do Jabaquara, zona Sul de São Paulo. Além disso, a família do pasteleiro é japonesa e, pelo menos em São Paulo, os melhores pastéis de feira são feitos por japoneses.
O jovem pasteleiro veio para Londres para estudar e diz que o segredo da receita, guardado a sete chaves pela família, só foi repassado a ele pela mãe porque ela acreditava que em caso de necessidade no exterior o filho poderia se virar fazendo pastel. A confecção do salgado começou a ser feita apenas para amigos, que passaram a pedir pastel com cada vez mais frequência. O pasteleiro e a noiva resolveram começar a vender a iguaria, que fez o maior sucesso em uma feira de gastronomia em Londres (onde um pastelzinho de aperitivo era vendido a 4 libras (quase R$ 15!). O pasteleiro diz que já recebeu várias propostas para trabalhar em restaurantes, todas recusadas por ele. “O que eles querem é descobrir o segredo da receita…”, diz ele.
Ele diz que quando abriu o negócio no Nags Head Market, uma feirinha na esquina da Holloway Road com a Seven Sisters Road (no norte de Londres e, por sorte, perto da minha casa!), 90% de sua clientela era inglesa. “Eles custam a experimentar o primeiro, mas depois disso, voltam sempre.” Após um mês e meio de atividade, o público já é formado por 50% de brasileiros. O pasteleiro vende, em média, 70 pastéis por dia durante a semana e cerca de 400 nos dois dias do fim-de-semana. O trabalho não é fácil. São oito horas em pé em uma banquinha na feira (para amenizar o frio do inverno que está chegando, ele tem um aquecedor portátil atrás do balcão), além do tempo do preparo da massa, em casa.



Por enquanto, o pasteleiro oferece cinco sabores de pastel (queijo, pizza, carne, banana com canela e banana com Nutella), mas em breve ele deve oferecer também o pastel de palmito e o de frango com catupiry.
Pela qualidade do pastel, o jovem e a noiva têm um futuro promissor pela frente!

Saturday 24 November 2007

Feliz aniversário, Kizz


Hoje você faria 34 anos. E alguém - Deus, o destino, o universo - não quis que você os completasse perto da gente aqui neste mundo. Eu espero que um dia eu entenda o por quê, mas confesso que ainda existe um grande ponto de interrogação no meu coração.
Durante estes quase cinco meses eu pensei em tanta coisa, passei por tantas perguntas existenciais que eu não consigo responder, tantas dúvidas, busquei tantas explicações para tentar amenizar a sua partida repentina, mas nada preenche o vazio da perda que eu estou sentindo.
Se eu me sinto assim, imagino o que o Paps e a Má estão passando e acho que é por isso que é ainda mais difícil aceitar o que aconteceu. Sempre fiquei tão preocupada com vocês três, desde pequena eu tentava te proteger das maldades das outras crianças - e depois dos adolescentes - e sofria tanto quando via você passando por uma situação difícil. Depois disso, a minha preocupação foi transferida para a Má e o Paps e sempre desejei, rezei e torci para ver os dois felizes. E agora sei que isso não vai ser tão fácil...
Achei esta frase na definição "quem sou eu", do seu Orkut: "life means staying alive and show others to enjoy their own lives..." e fiquei me perguntando por quê você não continuou a fazer isso aqui...
Eu sinceramente espero que Paps, Má e eu voltemos a saber curtir a vida logo.
Kizz, meu irmão, eu penso em você todos os dias, sempre que olho para um lindo pôr-do-sol ou nascer do sol, uma lua iluminando o céu, sempre que escovo os dentes no chuveiro (sei que se eu pudesse te ouvir você estaria me repreendendo por desperdiçar água - mas você deve ter percebido que reduzi a freqüência da prática...), sempre que olho para as plantas no jardim, sempre que como chocolate amargo, além das inúmeras situações em que me pego dizendo: "Meu irmão sempre dizia que...".
Sinto muitas saudades suas e esta semana acho que caiu a ficha de que não vou ver você por um bom tempo. E me deu uma agonia de pensar que se as saudades já são tão grandes agora, elas só vão aumentar no futuro, já que eu não vou te encontrar tão cedo para te dar um abraço bem apertado. Eu queria muito que você estivesse aqui, muito, muito, muito.
E eu espero que um dia eu consiga entender por quê Deus ou o universo escreve por linhas tortas e por quê ele achou que era hora de você ir embora e fazer a gente sofrer tanto. Só consigo pensar que você foi realmente promovido para um lugar melhor, onde a gente não sente dor e não existe maldade.
Eu te amo muito, Kizz. Apague as velinhas aí e coma muito bolo de chocolate e seja feliz, porque você é uma alma especial e merece. Um dia a gente comemora seu aniversário juntos de novo. Prometo fazer um brinde aqui embaixo para você com o Julien - que também está te mandando parabéns!

Thursday 22 November 2007

Os ingleses e seus esportes.


Em Londres estava chovendo desde quinta-feira da semana passada, aquela chuva bem mala, vezes mais forte, vezes mais fraca. Acabou ontem à noite, engraçado, coincidência ou não, acho que os ingleses choram por antecipação. Eles foram eliminados, derrotados, humilhados em casa, no belíssimo Wembley, pela Croácia por 3x2 numa noite de muita chuva, frio e choro.
É engraçado como eles têm um discurso de resignação, luta, conquista, um discurso de guerra, de um país que um dia foi “O Império” que inventou 90% das regras e jogos modernos como o futebol, criquet, rugby....Mas como eles são ruins e azarados em tudo isso é impressionante, em menos de 1 mês eles sofreram 3 derrotas esportivas daquelas de doer por muito tempo, ou 4 se contar que o futebol caiu, levantou e tombou de forma espetacular.
Tudo começou na quarta-feira dia 17 de outubro. Jogando em Moscou, os ingleses tinham a chance de praticamente garantir a classificação para a Eurocopa 08 se vencessem, mas perderam de virada por 2x1. A catástrofe começava, pois com a derrota os papéis se inverteram e agora era a Rússia que precisava apenas de uma vitória simples no próximo jogo contra a fraca Israel para se classificar. Os jornais por aqui já consideravam a classificação um sonho distante.
No sábado seguinte, dia 20, chegou a chance de ouro, com a Inglaterra finalista da Copa do Mundo da França contra a África do Sul. O país preparado para comemorar noite adentro, os pubs lotados, cerveja vendendo como água. Resultado final: África do Sul 15 x Inglaterra 6.
Mas eles ainda tinham outra chance no dia seguinte, domingo. O garoto de ouro Lewis Hamilton era “barbada” para ser o campeão da F1 no Grande Prêmio do Brasil. Bom, essa não preciso nem falar......

Na segunda-feira essa era a capa do The Sun:




"Boa tentativa" e "Oh bem, sempre teremos os dardos"




Já o The Guardian:

"Esse é a trinca...Hamilton o último dos ingleses perdedores"


















Para todos aqui o esporte nacional estava em recesso, seja no futebol, no rugby ou qualquer outro.
Sábado passado eis que a Fênix ressurge, contra todas as possiblidades, Israel vence a Rússia por 2x1 e vira tudo de novo: um simples empate em Wembley garantiria os ingleses na Suíça-Aústria 08.
Ontem, aquela chuva e a Fênix apagou. Em 15 minutos de jogo um frango memorável do goleiro Carson e um golaço numa bela jogada da Croácia e o resultado era o incrível 2 x0.
Na volta do intervalo a Fênix teve uma última chamusca, um pênalti e uma bela jogada de Beckham cruzando para o “grilo” Peter Crouch e os ingleses empataram em 2x2, aos 25 do segundo tempo. Mas os croatas, já classificados e realmente sem nenhum problema em perder ou ganhar o jogo, estavam a fim mesmo de sacanear os ingleses, um belo chute de fora da área e by by Eurocopa.
Hoje, aquele monte de “o que está acontecendo?”, “o que fazer?”, “nós temos um grande time!!” essa última é bem discutível....
Eles podem não ser bons em ganhar, mas são os melhores em perder.

Wednesday 21 November 2007

Aprendendo a perder

Parece que o destino quer mesmo me ensinar a lidar com a perda e com a impotência que se segue a ela... Hoje foi o dia de a minha magrela ser roubada. A minha bike companheira de tanto tempo tomou a maior chuva nos últimos dias no estacionamento do trabalho e hoje finalmente me animei com o céu azul (sim, isso acontece em Londres de vez em quando!) e resolvi resgatá-la de volta para a casa, onde ela pelo menos ficava coberta com uma lona. Parei na ioga e estacionei a magrela no mesmo lugar de sempre. Mas quando saí da ioga dei de cara com a maior chuva (sim, o tempo bom durou pouco...) e com um poste vazio na calçada...
Bom, mais uma vez: ainda bem que estou inteira e que só foi algo material que levaram embora. Perdas como estas são facilmente superadas, apesar de mais uma vez eu ter ficado indignada com a maldade das pessoas, que parece que andam me rondando para me sacanear ultimamente.
Por outro lado vale ressaltar que aqui em Londres roubo de bicicleta é um crime batante corriqueiro e que eu tenho dado sorte de não terem roubado minha magrela antes. O Edson, que trabalha comigo, já teve duas ou três bikes roubadas. E olha que o cara é profissional, chegou a gastar umas mil libras em uma delas. A minha pelo menos era mais modesta, acho que custou umas 150 libras. De qualquer forma, vou sentir falta da minha magrela, o transporte mais rápido e saudável que já tive para ir ao trabalho. Ah, e do sininho lindo em forma de joaninha que o Julien tinha me dado...

Adendo, escrito no dia seguinte:

Ontem eu estava bem brava e chateada com as pedras que ando encontrando pelo caminho, me perguntando "what the hell" nós estamos fazendo neste mundo. Amenizada a crise existencial, resolvi seguir o conselho daquela música do filme Monty Python: "Always look at the bright side of life". Se a minha bike não tivesse sido roubada ontem, eu iria olhar para a minha magrela naquela chuva forte, numa temperatura de 12ºC, sem casaco de chuva, e pensar: "Ai, ai... Não acredito que vou ter de ir para a casa pedalando..." Iria ficar encharcada, gelada e talvez pegasse uma pneumonia! Enfim, ando aprendendo que o universo nunca dá ponto sem nó!

Thursday 8 November 2007

As cores do quintal


Já falamos que nossa nova casa aqui em Londres é pequena, puro padrão inglês de "apertamento", mas ter um quintal é realmente uma grande benção aqui por essas bandas.
E nós demos sorte nesse quintal, as cores do outono e os "vizinhos" estão aparecendo.
Tudo bem, as tais cores do outono só estão antecipando o frio do fuc****** inverno que vem por aí.

Sunday 4 November 2007

Chuva de estrelas



Como avisei no primeiro post de Londres, este blog está passando por uma fase de mistura de experiências e readaptação na cidade, como nós. Como ainda tenho algumas coisas para contar do Egito, decidi dedicar este post a uma das melhores viagens que fizemos no país pouco antes de irmos embora: o Monte Sinai.
Quem me conhece sabe que não sou muito religiosa (dizem que foi lá que Moisés recebeu as Tábuas da Lei, com os Dez Mandamentos, de Deus), portanto, o que mais nos atraiu para o monte foi a escalada e a idéia de dormir no topo do local, sob um céu estrelado. O fato de o passeio ser possível de ser feito em um fim-de-semana também vinha a calhar, já que eu não tinha mais nenhum dia de folga antes de irmos embora.
Após mais de oito horas de viagem de ônibus (não contávamos com tudo isso...), já era noite quando chegamos ao pé da montanha. Jantamos e lá fomos nós montanha acima. Existem duas formas de subir: uma, que mais parece uma penitência, é subir os 4 mil degraus, todos irregulares. A outra, mais atraente para o nosso propósito, que era curtir o céu estrelado e conversar com as outras pessoas que iriam escalar conosco, era um caminho de pedra, com 750 degraus no final (nenhum pecador se livra de uma pequena penitência, né?!).



Lá fomos nós dois, uma suíça de uns 50-55 anos, e um casal formado por uma americana e um africano. Porém, antes de chegar ao pé do monte, fomos barrados pela "polícia turística" egípcia, que nos impediu de subir o monte à noite sem um guia. Tentamos argumentar de todas as formas, já que nos disseram que a subida é bastante tranqüila e nada perigosa, mas fomos obrigados a contratar um moleque beduíno para nos acompanhar. O problema é que o moleque e seu camelo logo virou um bando todo, que queria nos empurrar os camelos para subirmos sem nos cansar. A americana, que era gordinha e tinha sérios problemas de locomoção, deixou-se convencer (para nosso alívio, porque levamos 15 minutos para avançar alguns poucos metros, já que tínhamos de parar toda hora para esperá-la) e tentou subir em um camelo. O problema é que a pança da moça era tão gigantesca que não encaixava na sela do camelo... Bom, infelizmente para eles, o casal acabou desisitindo de subir o monte. Fiquei com pena, embora tenha de admitir que senti um alívio de que pelo menos iríamos chegar no topo antes de o sol nascer...
Restamos nós e a suíça. E a subida não poderia ter sido mais mágica. Logo no começo, nós três estávamos olhando para o mesmo ponto do céu, admirando aquele mar de estrelas impressionante, quando uma estrela cadente fortíssima caiu exatamente atrás do topo da montanha. Sentimos que eram as boas-vindas a uma noite especial.


Durante o percurso, podem ser encontradas "vendinhas" como esta, de beduínos, que faturam uma bela grana vendendo chá, refrigerante e chocolate, além de artesanato local.


Após cerca de 3 horas chegamos ao topo, onde alugamos colchonetes e cobertores (estava beeem friozinho lá em cima, sem falar no vento), e apenas com os olhos descobertos, ficamos deitados, olhando dezenas e dezenas de estrelas caírem do céu.
Eu não preguei o olho até o nascer do sol. Eu me senti num lugar muito, muito especial e parecia que cada estrela que caía era meu irmão me dizendo que ele está bem e olhando para nós lá de cima. Foi muito emocionante...
E o nascer do sol, uau... Sentamos em uma pedra em um dos cantos da montanha e fomos premiados com o sol, a lua e uma estrela ao mesmo tempo. Lindo!!!



Descemos o monte sob um solaço escaldante e chegamos ao pé suados, cansados, mas felizes por termos vivido momentos tão especiais. Eu nunca vou esquecer aquele céu, acho que nunca tinha visto tanta estrela na minha vida!
Infelizmente, parece que todos bons momentos no Egito têm seu preço e a volta para o Cairo foi beeeem traumática. Mas isso é assunto para o post dos taxistas, que prometo escrever em breve!

Wednesday 31 October 2007

Buenos Aires maldita

Passadas as eleições, que tiveram o resultado previsto - com Cristina Kirchner eleita no primeiro turno - lá fui eu fazer uma matéria sobre os principais desafios do novo governo. A intenção era incluir a falta de segurança, apontada como a principal preocupação dos eleitores em uma pequisa realizada no final da campanha eleitoral.
Eis que acabei sendo vítima dela durante a realização da matéria, que nunca ficou pronta. Tinha acabado de voltar de uma entrevista com um analista e como tinha esquecido minha carteira no hotel, voltei para apanhá-la. Em seguida atravessei a rua e resolvi gravar a passagem (aquele trecho em que o repórter aparece no vídeo) em frente a uma estação de metrô - o Subte, como é chamado aqui -, com a estátua de Simon Bolívar ao fundo. Depois de montar o tripé, uma mulher me chamou a atenção que alguém tinha espirrado algo na minha calça e reparei que ela estava toda suja, com um líquido branco, na parte de trás das pernas. A mulher se mostrou solidária e me deu um lencinho de papel para limpar a calça e me ajudou a limpá-la. Mas ela insistiu, dizendo que continuava suja, mais para cima, na minha bunda. Comecei a achar a insistência dela meio chata, mas fiquei olhando para trás para conferir o que ela estava falando. Ao mesmo tempo, um outro senhor me chamou a atenção e apontou para uma janela do prédio, dizendo que ele achava que o líquido que me sujou tinha sido jogado lá de cima. Com os dois me atordoando, só ouço um senhor gritando: "Um garoto roubou sua mochila!!!", apontando para a escadaria da entrada do metrô. Eu olhei para baixo do tripé e a mochila realmente não estava mais lá. Gelei e sem acreditar no que estava acontecendo, desci as escadas correndo como uma louca, berrando: "Polícia, polícia, polícia!" Desci correndo até a plataforma e pedi para pararem o trem. Revistei vagão por vagão, olhei embaixo de todos os bancos e nada. Eu não estava acreditando no que estava acontecendo, fiquei desesperada, pensando na câmera caríssima (uma Sony HDV Z1 nova) e no cristal do meu irmão que eu carregava na minha carteira.
A polícia apareceu depois de cerca de 10 minutos e quando contei a minha história, o policial disse que a única coisa que poderia fazer era dar uma olhada no metrô para ver se achava o assaltante. Se eu não encontrei os desgraçados segundos depois do assalto, o cara achava mesmo que ia me acalmar dizendo que uma revista 10 minutos depois iria funcionar???
Eu estou me sentindo uma imbecil por ter caído no golpe desta gangue de canalhas. Trouxa de confiar que pessoas na rua podem ser gentis. Enganada, desiludida e muito triste com a maldade do ser humano. Lá se foram câmera, luz, baterias, microfones, dois celulares (um eu recebi emprestado), minha agenda, e, o pior (que meus chefes não leiam isso): minha carteira com vários amuletos de coração. O Julien me disse que está muito aliviado que nada aconteceu comigo e fisicamente não aconteceu mesmo. Concordo com ele. Mas psicologicamente ainda não me recuperei do sentimento de impotência, de revolta e de ficar remoendo as minhas ações naquele 1 minuto que provocou uma reviravolta no clima da minha viagem.
Neste momento estou no aeroporto, voltando mais cedo para Londres, porque meu trabalho acabou. A viagem para Buenos Aires, que estava sendo uma grande experiência boa para mim, ficou amarga. Não vejo a hora de ir embora. Pelo menos levo na mala mais de 100 alfajores e 1kg de dulce de leche para adoçar um pouco a minha volta. Quem sabe daqui a algum tempo eu coloque este 1 minuto de um lado da balança e do outro coloque o reencontro com meus pais - que viajaram para Buenos Aires para me ver! - as minhas primeiras experiências de entradas ao vivo na TV, a companhia dos meninos da Band, conhecer a Márcia Carmo - finalmente! - meus encontros com o Paul, o tango do Café Tortoni e o sushi mais do que divino do Sushi Club de Puerto Madero. E talvez eu acabe chegando à conclusão que a viagem valeu a pena. Mas, por enquanto, estou muito chateada para isso.
Bom, e fica meu conselho para quem viajar para a Argentina: não confie em ninguém no centro de Buenos Aires. Infelizmente, pessoas honestas e gentis por natureza não se encontra em qualquer lugar por aí.

Saturday 27 October 2007

Mi Buenos Aires querida



Cá estou eu em Buenos Aires para cobrir as eleições argentinas. Se profissionalmente para mim está sendo muito legal - depois entro nos detalhes - os argentinos parecem não se importar com a votação de amanhã. Me disseram que antigamente o país não conseguia falar de outra coisa a não ser de política na época da campanha eleitoral e mais uma vez, me senti chegando atrasada numa cobertura, com a vontade de ter trabalhado em outras épocas, consideradas mais democráticas, em que a discussão política gerava debates, reações calorosas dos cidadãos defendendo seus pontos de vista e manifestações de ativistas nas ruas.
Desta vez, a mulher do presidente resolveu se candidatar e muitos analistas acham que a intenção dos Kirchner é ir jogando a peteca da presidência de um para o outro nos próximos anos. Os partidos políticos praticamente desapareceram e a oposição se fragmentou, o que beneficiou a primeira-dama, Cristina Kirchner, que está disparada nas pesquisas e deve ser eleita presidenta - como ela gosta de enfatizar - já neste domingo. Muitas pessoas com quem conversei têm um discurso parecido com o de muitos brasileiros: "É um bando de corruptos", "Nenhum deles presta", "Tudo vai continuar igual". A maioria dos meus entrevistados não iria votar em Cristina, mas todos já se conformaram com sua vitória.



Bom, mas vamos ao meu microcosmo... Diferentemente de outras coberturas e viagens, onde tinha de fazer rádio, Internet, gravar, editar e dar pirueta sozinha, desta vez estou me sentindo chique. Primeiramente, porque a competente stringer da BBC Brasil aqui em Buenos Aires está cuidando - e muito bem - da parte da Internet. E estamos dividindo as tarefas do rádio. Sobrou o vídeo e ontem sobrevivi a mais um grande desafio, do qual, confesso, estava morrendo de medo.
A Band enviou duas pessoas para testar um equipamento de link - aquelas entradas ao vivo que os repórteres fazem durante os jornais. E quem ficaria na frente da câmera? Eu! Quando soube, ainda em Londres, já comecei a passar nervoso só de pensar. Sou uma pessoa tímida e tinha certeza de que ia me enrolar na hora, justamente porque meus nervos não colaboram comigo nessas horas.
Eis que no primeiro dia de link, quarta-feira, os problemas técnicos obrigaram o cancelamento da entrada. No segundo dia parecia que não tinha como eu escapar, porque tudo estava funcionando. Só que o dia ensolarado, de 29ºC se transformou num mundo de chuva forte, de 15ºC e o link foi cancelado novamente. O Julien brincou que até dança da chuva eu fiz para me livrar do link, hahahahaha!
Bom, mas ontem não teve jeito. A previsão era de tempo bom e o link estava tinindo. E lá fui eu para a frente da câmera, tremendo, com dor no peito de tanto nervoso. "7 minutos para sua entada"... "Cinco"... "Três e meio"... "Um"... Eis que sou chamada no ar e começo a falar. Um delay inesperadono retorno (ficamos ouvindo o jornal com um fone de ouvido, mas se costuma silenciar o retorno quando começamos a falar. Os repórteres mais experientes conseguem falar se ouvindo - com segundos de atraso - sem errar, mas obviamente não me incluo neste grupo) me fez tentar arrancar o fone logo no começo da entrada, mas em seguida ele silenciou e eu desatei a falar o boletim que tinha ensaiado trilhões de vezes antes. E deu certo!!!! Depois de 10 segundos no ar, senti a adrenalina correndo pelo meu corpo e no fim de 40 segundos, quando tudo terminou, tremia feito vara verde. Mas deu tudo certo!!! Ufa!!!! Só espero que não passe o mesmo nervoso antes de toda entrada que fizer daqui para a frente!

Monday 8 October 2007

De volta à terra firme

Estamos devendo um post há tempos, é verdade... E como as coisas mudaram nas últimas semanas! A maior novidade é que deixamos de boiar na nossa espaçosa casa-barco no ensolarado Cairo para nos encaixar num mini-apartamento na cinzenta Londres.
Pensamos em encerrar os trabalhos do nosso blog, já que a intenção era contar as curiosidades de uma região tão diferente como o Oriente Médio para amigos, parentes e mais alguns leitores que nos honraram com sua presença no nosso blog durante nossa jornada.
Porém, por enquanto, o fechamento do blog está adiado. Primeiramente, porque ainda existem coisas do Oriente que precisam ser contadas aqui. Só nestas semanas que desaparecemos subimos o Monte Sinai à noite - e vimos dezenas de estrelas cadentes e o sol nascer lá do topo - e fui para um campo de refugiados palestinos no meio do deserto na Jordânia. Além disso, temos de falar sobre os taxistas egípcios e sobre várias outras experiências que tivemos no Cairo, que não contamos de lá por causa da correria do trabalho.
Portanto, aguardem nos próximos posts uma mistura de impressões de Cairo e Londres. Aliás, a primeira grande diferença que, já no táxi, espremidos entre as nove malas que trouxemos de volta (a pergunta que não quer calar durante estas últimas duas semanas é: “Pra quê tanta roupa???...) é de como esta cidade é silenciosa se comparada ao Cairo. É impressionante!!! As pessoas ficam absolutamente empacadas num trânsito infernal (demoramos três horas para chegar do aeroporto até a casa do Rodrigo, um amigo que nos acolheu) e ninguém buzina! Todos esperam, com uma paciência impossível de se encontrar em qualquer pedacinho de alma egípcia! Tinha taxista no Cairo que buzinava a cada 5 segundos. E não é exagero! Eu ficava me perguntando por quê o cara enchia a mão na buzina toda hora se não havia carro na frente, nem pedestre atravessando a rua, nem carroça no caminho. Aí comecei a cronometrar o tempo máximo que o taxista agüentava ficar sem tocar na buzina. 5 segundos!
Na primeira noite aqui em Londres dormimos como pedras. Só pode ser graças ao silêncio. Foi impressionante não ouvir nenhuma buzina durante a noite, nenhuma felluca (os barquinhos com turistas que navegam pelo Nilo) com as musiquetas irritantemente chatas e altas no meio da madrugada. Foi mais do que impressionante. Foi calmante. Saímos do estado de constante alerta em que estávamos e relaxamos. Vou sentir falta de várias coisas do Cairo, mas foi bom voltar para um lugar que já aprendemos a chamar de casa...



Espero que, em breve, esta seja a nossa sala. Continua com cara de armazém, mas já está melhor do que o que vocês estão vendo aqui. Fotos do resto do apê, só quando conseguirmos acabar o quebra-cabeça de encaixar o mundo de tralhas que nós temos no espaço disponível!

Monday 17 September 2007

Pra falar das meninas.



O que me leva a falar do assunto é uma campanha do governo e da sociedade aqui no Egito para impedir a “mutilação genital” feminina, em outras palavras, o corte cirúrgico de parte do clitóris e dos lábios vaginais, uma puta sacanagem para falar português bem claro.

Você pode perguntar o por quê disso. Ora, assim as meninas quando crescerem não terão desejo sexual ativo e a família pode ficar mais sossegada em relação às virtudes da moça antes do casamento.
E não pense que essa cirurgia\sacanagem é uma tradição mulçumana - religião dominante aqui e que é conhecida pela repressão feminina. Desde os tempos faraônicos no Egito e pelo menos nas comunidades banhadas pelo Nilo em sua extensão por outros países esta prática é comum em famílias cristãs, mulçumanas e até em algumas outras religiões africanas. Segundo um relatório do Unicef, em 2005 97% das mulheres entre 15 e 49 anos no Egito eram “sexualmente mutiladas”.

Se esta violência contra as meninas já não fosse suficiente tem mais um pequeno detalhe. Quase que todas estas cirurgias são feitas clandestinamente por supostos médicos tribais sem os cuidados básicos de higiêne, anestesia, remédios e acompanhamento pré e pós cirurgico. Não é preciso imaginar muito para se ter uma idéia da quantidade de efeitos colaterais que estas meninas sofrem, fisica e psicologicamente. Muitas vezes inclusive causando a morte.
Em junho de 2007, após uma menina de 12 falecer durante uma mutilação, mas anos depois de muita pressão das entidades de direitos humanos e de personalidades como a primeira-dama do país, Susanne Mubarak, o governo egípcio, juntamente com autoridades islâmicas e cristãs, anunciou a proibição deste tipo de cirurgia. Os líderes religiosos inclusive afirmaram que tal ato fere profundamente os princípios tanto islâmicos como cristãos.
Ok, estamos falando de Egito, Sudão, Etiópia, ou seja, a África, e qualquer um que esteja um pouco mais antenado no mundo sabe que o controle do estado político em qualquer país do continente é extremamente frágil. Sudão, Somália e Etiópia entram e saem de guerras civis constantes e mesmo no caso de governos mais fortes, como a “ditadura democrática” do Egito, a falta de educação primária e cultura fazem com que estas tradições arcaicas e brutais se perpetuem por gerações.
Tanto que, agora no começo de agosto, outra menina,de 13 anos, faleceu no Egito. Ela foi operada, mutilada e assassinada numa clínica particular no noroeste do país. As autoridades fecharam a clínica, mas isso mostra como mesmo com as campanhas e com a lei do estado que proíbe tal procedimento, os pais continuam mutilando suas filhas e não é difícil encontrar onde fazê-lo.
Para falar destas meninas, acabei falando de religião e política, mas não é sobre isso, é sobre elas, sobre como em nosso tempo pessoas de “bem”, eu suponho, ainda praticam essa violência contra seus entes queridos.
Aqui num país mulçumano, como eu falei antes, é escancarado o quanto as mulheres estão num segundo plano na estrutura da sociedade. A roupa e o véu cobrindo o corpo, a proibição de acesso em determinados lugares e principalmente a falta de opção quando o assunto é decidir a própria vida. E tudo começa num ato que aparentemente é puro controle sexual, mas vai além, é um controle de caráter, de vontade, da vida.

Thursday 13 September 2007

Menos poluição

E começou o Ramadã! Ficamos altamente impressionados – o Julien, ex-fumante beirou o inconformismo – de não ver um único ser nesta cidade com um cigarro na boca durante o dia! Nada de fumaça na cara dentro dos táxis, nada de egípcios fumando shishas nos cafés, nenhuma pista de uma brasa soltando nicotina e intoxicando os pulmões dos fumantes – e dos não-fumantes! A poluição sonora, embora não tenha sumido (feito impossível aqui no Cairo), diminuiu bastante devido à quantidade reduzida de carros nas ruas, especialmente após a quebra do jejum (que hoje aconteceu às 18h05, segundo o nosso porteiro). Aliás, o Saied, nosso porteiro, diz ter aproveitado a onda do Ramadã para parar de fumar de vez! Como ele mesmo disse: Insha allah! (Deus queira!)
Quanto ao meu dia de Ramadã, foi um tremendo fiasco e comprovei mais uma vez que não nasci para ser muçulmana... Fui dormir com aquela neura de não poder beber água de manhã (costumo virar um copo de água, que já fica me esperando na mesinha de cabeceira, assim que acordo), e tive pesadelos durante a noite, o que me fez acordar várias vezes para tomar o copo de gole em gole antes do pôr-do-sol. Aí acordei umas 8h com aquele gosto de travesseiro na boca e não podia mais beber água. Pois bem, ignorei também meu sagrado café-da-manhã e lá fui eu para um looongo dia de trabalho para preparar uma matéria de vídeo sobre o Ramadã. Como sou muito mão-de-vaca e os preços todos aumentaram por causa do Ramadã, fiz vários deslocamentos a pé em vez de pegar um táxi e aquele solzão batendo na minha cabeça, a mochila pesadérrima com o equipamento de vídeo, o tripé e a câmera a tiracolo me fizeram clamar por água. Como é altamente indelicado tomar qualquer líquido na frente de pessoas que realmente não podem tomar – além de ser bem complicado achar algo para beber na rua este mês – esperei até chegar em casa e, pouco mais de seis horas depois do começo do meu jejum, lá estava eu virando um garrafão de água da geladeira de casa goela abaixo...
Bom, aprendi que o sacrifício que os muçulmanos fazem neste mês não é pequeno, apesar de, pelo menos os egípcios, terem lá as suas “gambiarras” para facilitar o jejum.
Para quem não sabe, o Ramadã é celebrado no nono mês do calendário lunar, período em que se acredita que o Alcorão começou a ser revelado ao profeta Maomé. Durante 29 ou 30 dias (depende do ano), os muçulmanos têm de ficar sem comer, beber, fumar, fazer sexo e ter pensamentos impuros (ha, quero ver conferirem este último!) do nascer ao pôr-do-sol.
Depois de o sol sumir atrás do horizonte, é hora da comilança! Muitas mesas são colocadas nas ruas, calçadas e outros locais públicos, onde os pobres recebem doações de comida dos mais afortunados e generosos. Ironicamente, aqui na casa-barco, quem nos convidou para comer foi justamente a família humilde do nosso porteiro. Bunis, olhem eles aí...



Bom, mas voltemos às gambiarras. O desjejum é o começo do dia dos egípcios, que, se já costumam ter a vida noturna mais agitada que eu já vi, viram perfeitos vampiros durante o Ramadã. Depois do desjejum vêm as séries e novelas especialmente produzidas para este mês (imaginem, que maravilha, novela sem embromação?). Os filmes “inéditos” anunciados nas TVs não começam antes das 2h da madrugada. Aliás, este é o horário que todos costumam comer pela segunda vez, muitos em restaurantes. Depois da noitada, todos vão dormir para acordar lá pelas 11h ou meio-dia do dia seguinte. Aliás, as jornadas de trabalho e das escolas são reduzidas durante este mês.
Agora, façam as contas: acordar ao meio-dia e desjejuar às 18h é exatamente o tempo em que eu fiquei de jejum hoje! Então, pelo menos uma muçulmana egípcia eu poderia ser! Obviamente se no pacote não viessem tooodas as problemáticas de não haver igualdade de direitos entre os sexos nem a obrigação de se cobrir dos pés à cabeça num verão de 40ºC, entre outros detalhes...



Aqui um exemplo da comilança pós-pôr-do-sol, em Zamalek

Monday 10 September 2007

O Natal está chegando!



Véspera de Ramadã aqui no Egito me lembra muito os dias que antecedem o Natal. Semanas antes do Natal eu já costumo me sentir diferente, com uma alegria interior inexplicável. Em Londres, as pessoas esquecem a tristeza do inverno e ficam mais gentis umas com as outras, além de tudo ser motivo para comemorar com um jantar ou algumas (no caso dos londrinos, muitas) cervejas num bar.
Voltando ao Cairo, aqui todos também parecem ansiosos com a chegada do Ramadã, que começa na próxima quinta-feira, dia 13. Só de mencionar a palavra para o nosso porteiro, os olhos dele brilharam, acompanhados de um sorriso.
Nos supermercados, em vez de panetones podem ser vistas sacolas com alguns ingredientes básicos para a cozinha (arroz, macarrão, várias sementes, como lentilhas e feijão, óleo e outros mantimentos), além de muuuuuitas nozes, frutas secas e doces típicos do mês de jejum.



Aí as "sacolas-básicas" no supermercado






Mas vamos às curiosidades, que começam justamente com o tal jejum. Existe uma verdadeira corrida aos supermercados e vendinhas de comida e a maioria dos egípcios que conheço disse que engorda durante o mês, apesar de não se poder ingerir nada desde o nascer até o pôr-do-sol. Ah... mas depois do pôr-do-sol vem a desforra: todas as famílias cozinham seus pratos favoritos, com aquelas receitas de vó que tendem a ser altamente deliciosas e calóricas, quitutes de sobremesa (tudo com toneladas de açúcar, como os egípcios adoram) e convidam parentes e amigos para a ceia fenomenal. E não é um dia de comilança, como nós temos no Natal (ou dois, no caso da família do Julien, que faz uma ceia pós-natalina com as "sobras"), são 30 dias indo e vindo de casas de amigos e parentes, convidando pessoas para sua casa, tudo regado com o que é proibido durante o dia inteiro.
Aliás, não é só proibido comer durante o dia, como também beber (água, inclusive) e fumar. Esta última proibição é a que está me deixando mais curiosa... Quero só ver como os homens-chaminés egípcios vão passar o dia sem fumar. Os taxistas, que praticamente acendem um cigarro no outro, os desocupados, que fumam para passar o tempo, os egípcios que passam horas a fio nos cafés pitando shishas... Quero só ver. Diz o dono do nosso barco - que obviamente também fuma - que nos primeiros três dias a cidade fica em clima de neurose por causa da restrição, mas depois passa.
Ah! E saliva também é considerada líquido, portanto, não pode dar beijo de língua durante o dia. Sexo, então... Só depois de o sol se pôr. O dia durante o Ramadã serve para você seguir à risca os preceitos do Islã e, portanto, valorizar mais do que nunca a sua vida espiritual. Gosto da idéia e acho que, pelo menos na quinta-feira, vou seguir o jejum para ver como é.



Estas lanternas podem ser encontradas espalhadas pela cidade inteira. Além disso, os supermercados mais chiques vendem cestas de frutas secas, nozes, copos e outros enfeites pintados com símbolos do Ramadã.

Após o início do Ramadã trago as novidades! Aliás, a ordem para os consumidores de álcool é: estoquem cerveja antes do Ramadã, porque as lojas de bebidas alcoólicas ficam fechadas durante o mês inteiro! E o conselho para os mais endinheirados (sim, aqui somos considerados assim): se preparem para ser mais generosos do que nunca, pois todas as gorjetas devem ser, no mínimo, dobradas, além das libras egípcias que você deve distribuir sem pedir nada em troca.

Tuesday 4 September 2007

Domingo em Alex

Voltando ao nosso fim-de-semana de Alexandria, depois de esgotar o turismo na cidade, resolvemos ir até Rosetta, onde foi descoberta a famosa pedra que forneceu o código para decifrar os hieróglifos (como grande parte das riquezas encontradas no Egito, a pedra de Rosetta se encontra atualmente no British Museum, em Londres, e o Museu do Cairo tem de se contentar com uma foto reproduzindo a dita cuja). Além disso, é ali que o rio Nilo deságua no mar e achamos que iria ser uma boa oportunidade para finalmente fazer um passeio de barco pelo Nilo (já que há meses estamos estacionados no mesmo lugar do rio!).
Depois de mais de uma hora torcendo para chegarmos a Rosetta inteiros - já que o taxista desconhecia leis de trânsito como limite de velocidade e ultrapassagens em certos trechos da estrada -, sentada no banco traseiro de um carro pré-histórico, sem cinto, passeamos pelo microvilarejo e, apesar de ter sido um passeio simples, sem grandes atrações, foi uma supresa agradável ver mesquitas muito antigas e humildes e conversar com pessoas sorridentes e bem-humoradas na rua.
O tal passeio no Nilo foi uma decepção. Foram 15 minutos até uma mesquita, uma visita rápida, porém interessante, e 15 minutos de volta. Nada de ir até a boca do Nilo. Só de desforra, resolvemos ir até lá com o nosso taxista. Não existe nada por perto, apenas areia, terra e alguns postos de checagem da polícia...



Aqui a mesquita: simples, mas num lugar privilegiado e bucólico, na beira do Nilo





Algumas crianças em uma mesquita em Rosetta, com o Alcorão em punho



De volta a Alex, nada como relaxar numa praia no fim da tarde, já que o nosso trem de volta ao Cairo era apenas à noite. Depois de ver alguns banhistas no dia anterior, eu já tinha desistido da idéia de usar biquíni e já tinha me preparado psicologicamente para entrar no mar de short e camiseta. Mas não ficamos na praia por mais de cinco minutos. A pequena faixa de areia estava abarrotada de gente - todas as mulheres de lenço na cabeça, calça e camiseta de manga comprida, o sol estava escaldante, não tinha um lugar para comprar ao menos uma água e só de pisarmos no local metade da praia olhou para nós. Antes de falar mal do Boqueirão, Guarujá ou de qualquer outra porção de areia considerada menos atraente na costa brasileira, dêem uma olhada nisto:





A volta ao Cairo foi um pouco tumultuada. Depois de uma confusão do vendedor de passagens no dia anterior, que nos fez perder o trem das 19h30 e chegar uma hora e meia antes do trem das 21h30 para tentar conseguir um assento (na segunda classe, of course), o trem finalmente chegou. Na plataforma, dezenas e dezenas de pessoas se empurrando para entrar no trem, todos com milhares de malas, caixas de papelão e uma criançada ligada no 220. Quando conseguimos vencer a multidão e entrar no trem, onde estava o ar-condicionado? E, mais importante, a luz???? Lá estavam todos com a maravilha da tecnologia que é o celular, na maior escuridão, iluminando os números das poltronas com a telinha dos aparelhos. Mas o pesadelo durou pouco. Pelo menos este. A luz voltou, o ar-condicionado começou a funcionar e o trem... não saiu. Durante quase duas horas ficamos parados na estação de Alexandria esperando o início da viagem de volta, ao som de sete crianças rebeldes que nos acompanhavam no vagão...



O estado do "vagão-restaurante" antes da saída. Durante a viagem, o lugar virou o fumódromo da galera, que bebericava muito chá e café.

Sunday 2 September 2007

O Guarujá dos egípcios

Como vamos deixar o Egito antes do previsto, resolvemos fazer turismo todo fim-de-semana, até irmos embora. É por isso que resolvemos enfrentar a muvuca de Alexandria antes do fim da temporada, quando TODO o Oriente Médio parece dar uma passadinha pela cidade, que fica na costa do Mediterrâneo.
Seria a nossa primeira viagem de trem pelo Egito e, pensando na precariedade dos táxis e dos ônibus no Cairo, as nossas expectativas de ter uma viagem agradável de trem eram bastante baixas - ainda mais quando o Julien voltou com as passagens de segunda classe, porque as da primeira já tinham esgotado. Já estava eu pensando naqueles trens brulhentos e enferrujados de 1800 e bolinha, com egípcios com 14 filhos e 75 malas e caixotes, além das gaiolas com galinhas, fazendo aquela farofa dentro do trem, todo mundo naquele suadouro sem fim por causa da falta de ar-condicionado.
Ao entrar no trem, qual não foi nossa surpresa quando o ar estava bem mais fresquinho do que do lado de fora! E as poltronas, confortáveis, e os passageiros relativamente comportados.



A chegada a Alex, no trem espanhol (velho, mas inteiro!)

A decepção veio mesmo depois. Ao chegar em Iskenderiyya (Alexandria, em árabe), a capital do Egito na época do Império Romano, fundada por Alexandre, o Grande, governada por Cleópatra, berço de uma das antigas Sete Maravilhas do Mundo (o já inexistente Farol de Alexandria), o que pudemos ver era uma cidade suja, barulhenta e bagunçada, com monumentos turísticos mal-cuidados e muito menos aceitação de marcianos (é assim que eu me sinto aqui no Egito, pois as pessoas não páram de olhar, como se viéssemos de outro planeta) por parte da população local do que no Cairo.
Por outro lado, ninguém pode vir ao Egito sem passar por Alexandria e toda cidade, por mais decadente que esteja, tem suas vantagens: ficamos num hotel maravilhoso e longe de ser impagável (o Cecil, um dos hotéis mais estilosos e antigos da cidade, com uma vista linda do mar), comemos foul e tammiyya maravilhosos numa lanchonete supersimples e baratíssima (Mohammed Ahmed), caminhamos horas pela beira do mar (obviamente sem passar despercebidos por todos os turistas árabes), e comemos peixe e camarão divinamente suculentos no Fish Market (um dos poucos lugares em Alexandria que servem uma cervejinha gelada).



A vista da sacada do nosso quarto



O prato de mezze do Fish Market. Detalhe: isto é apenas o couvert, depois ainda vem o peixe!


Obviamente, demos azar de encontrar o Museu Greco-Romano fechado para reforma, mas conseguimos descer às catacumbas de Kom Ash-Shuqqafa, que são beeem legais.
A volta ao Cairo, bom... não foi tão confortável quando a ida a Alex (é o apelido que a galer daqui dá à cidade). Conto em outro post, senão vocês não vão ter paciência de ler este até o fim!

Encontro pela Internet

Quando me convidaram para entrar no Orkut, fiquei um tanto quanto apreensiva, pois via a febre de algumas pessoas que não conseguiam passar mais de uma hora sem dar uma checadinha no site. Mas como eu não tenho muita paciência para passar ainda mais horas em frente ao computador, além das que eu já tenho de passar para trabalhar, virei uma "orkuteira-turista", dando uma entradinha a cada duas ou três semanas para dar uma olhada nos meus recados. Mas desde o ano passado, o orkut virou uma importante fonte para encontrar brasileiros perdidos pelo mundo para as minhas pautas. Aconteceu novamente esta semana.
Depois de um fim-de-semana de turismo pelo Cairo, cheguei em casa e recebi um telefonema do meu chefe. Era um domingo, terceiro dia dos incêndios na Grécia, e ele resolveu me enviar para lá assim que eu conseguisse uma passagem, ou seja, na segunda-feira. A idéia era fazer alguns boletins de rádio e um boletim para a Band na própria segunda-feira à tarde e, na terça-feira, produzir uma matéria de vídeo e Internet. Antes de ligar para a embaixada brasileira na Grécia (que, aliás, NUNCA me ajudaram a encontrar personagens para as minhas matérias), passei pelo menos duas horas no Orkut enviando mensagens para os integrantes das comunidades "Brasileiros na Grécia" e afins.
Na terça-feira, após vários recados postados no meu orkut e alguns telefonemas, eis que garanti três boas entrevistas: a de uma brasileira que ajudou a apagar um incêndio em Atenas, de um brasileiro que interrompeu a viagem no Peloponeso por causa de um incêndio na estrada, e de um outro brasileiro que ajudou a salvar a vila onde o pai nasceu das chamas, na ilha de Evia.
Na hora da correria, nada como o velho e bom boca-a-boca, só que mais eficiente e pela Internet! Quem disse que eu nunca marcaria um encontro pela Internet?! :-)



Olhem um dos meus entrevistados aí.

Friday 24 August 2007

Diários de bicicleta

É em um dia como hoje que eu me sinto privilegiada na minha profissão: ser paga para conhecer pessoas maravilhosas e especiais e ter a chance de contar sua história por meio do meu texto.
Hoje entrevistei o Álvaro Neil, um espanhol que deixou o país dele há 2 anos e 9 meses em cima de uma bicicleta, passou por 30 países da África e depois de quase 38 mil quilômetros pedalados, chegou ao Cairo. Ele é uma prova de que as pessoas não precisam de bens materiais para serem felizes e é isso que ele prega por onde passa. Tudo o que ele tem é uma bicicleta e 80 quilos de equipamento para sobreviver nos lugares ermos e sem estrutura por onde passa. A casa dele, como ele diz, fica abaixo do céu de estrelas que ele vê todas as noites. Muitas vezes Álvaro é convidado por pessoas humildes para dormir em um quarto de suas casas, ou então dorme em redes em casas abandonadas, delegacias, quartel de bombeiros... Para agradecer a gentileza das pessoas que ele vai encontrando pelo caminho, ele realiza malabarismos e truques de mágica, além de fazer apresentações de circo em creches, hospitais, presídios e qualquer outro lugar que a população encontrar para organizar e assistir a seu espetáculo. Ele se chama de biciclown e pretende rodar o mundo inteiro em cima de sua "magrela" conhecendo pessoas especiais como ele, acordando todo dia vendo o sol nascendo no horizonte, vivendo o dia-a-dia com simplicidade, aproveitando o dom que ele recebeu de interagir com todo tipo de pessoa.
Ele se apaixonou pela África e, antes de seguir a jornada (próximo destino: Oriente Médio), vai permanecer no Cairo escrevendo um livro sobre tudo que viu, viveu e sentiu. O biciclown disse que nunca viu um povo tão hospitaleiro e que consegue sorrir e ser feliz com tão pouco como o povo africano (ele fez uma viagem parecida com esta pela América Latina, incluindo o Brasil) e a intenção é mostrar isso para o maior número de pessoas possível.
Depois da entrevista, o Álvaro avistou um grupo de egípcios almoçando em um banco da praça onde estávamos. Ele não teve dúvida: sentou, enfiou a mão em uma tameya (falafel) e comeu. Os egípcios adoraram e começaram uma longa conversa, recheada de boas risadas. Invejo a coragem que ele tem em "invadir" a conversa de pessoas que ele nunca viu e conquistá-las em poucos segundos.
Me senti hoje um pouco como me senti depois de ter visto o filme "Diários de Motocicleta", sobre a juventude do Che Guevara. Saí do filme me sentindo pequenininha e inútil e invejando almas generosas como a do Che. Pois a alma do Álvaro também é generosíssima - apesar de ele dizer que viaja o mundo por aventura.
De quebra, o biciclown ainda tem um site, onde escreve um diário sobre os momentos mais marcantes de sua viagem. Dêem uma olhada, prometo que vocês não vão se arrepender! www.biciclown.com

Aqui vai um aperitivo, que ele escreveu em Manaus:



Nunca habia visto un pato en bicicleta. Me pregunto cual será el tipo de animal que maneja los coches que decididamente están dispuestos a matarme en la ruta.
Llegué a Manaus sin comer y con 130 kms en las piernas. Paré en la policía y Jarilson, me convidó a su almuerzo. Un mendigo pasó cerca y tambien le dió de comer. Me permitió usar su celular para llamar a una persona de contacto en Manaus (Tere), y me hizo cafe.
Solo le podía regalar mi magia del pañuelo. Nunca habia visto magia de cerca, a tan solo medio metro. Y alucinó.
Habia pasado una hora desde que le conocí y ya me despedía de él. Me deseo feliz navidad ("feliz natal") y sentí que mi corazón se quebraba. Le di la mano y le deseé buen año, y al irme y mirar para atrás le vi llorar.
Son esos segundos mágicos donde la vida se detiene y el aire está cargado de sentimiento fraternal. Solo quién ha VIVIDO sabe de lo que hablo.
Jarilson, gracias.


E como não tem um dia em que não penso no meu irmão, aqui vai mais um post do biciclown, que me emocionou muito. Aliás, hoje quando eu perguntei ao Álvaro se ele não tinha medo de algo acontecer com ele (ele já pegou malária quatro vezes e uma vez foi atacado por uma cobra no deserto), ele me disse que nós temos uma data de validade impressa no topo de nossa cabeça e que ninguém vai mudar isso. Portanto, viva, viva sempre!!!
Este post, que ele escreveu na Amazônia, vai em homenagem ao meu irmão:



ATARDECE O AMANECE?
Viendo esta foto es difil saberlo. Desde la cubierta del barco echan todos los días esta película que pocos queremos perdernos. El sol pinta en su retirada de colores todas las nubes, y se divierte ofreciendo más cuando ya ha desaparecido.
Ocurre también con los seres queridos, cuando ya no están es cuando más nos acordamos de ellos.


Assistam à matéria que fiz para a BBC Brasil.

E aqui vai o texto do site www.bbcbrasil.com.

Tuesday 21 August 2007

Você já viu a bunda de uma Esfinge?


Alexandria, Egito.

A idade da internet discada parte 4 – Funciona e é Rápida!

Algumas coisas continuam na mesma:
- O telefone “skype” que o governo egípcio não me autorizou receber aqui e que foi enviado de volta para meu pai na França ainda não chegou. E foi no mês de maio....alguma chance de ver ele de novo? Acho que não.
- A internet, paga e cara, ja foi cortada uma dezena de vezes por falta de pagamentos, que foram efetuados. Isso é impressionante, daqui a pouco os atendentes da empresa vão aprender português de tanto que ligamos lá toda vêz que a linha é suspensa .

Mas, outras coisas mudam:
Depois de tambem intermináveis falhas e quedas de sinal os técnicos da empresa provedora me mandaram trocar o cabo telefônico entre a rua (veja bem a foto da “caixa telefônica na rua” no Idade da Internet discada parte 2 - O Mão leve) e o barco. Eu teria que comprar o cabo da marca “Sewedy”, claro que me levou 2 dias para achart o dito cujo por aqui. Mas tenho que reconhecer, depois que troquei o cabo, a internet está 100% melhor. Se aí onde você mora tem o “Sewedy”, eu recomendo!! Hamdulillah!!!

Thursday 16 August 2007

A voz amiga



No primeiro dia em que voltamos ao Cairo eu percebi algo estranho. Levou alguns dias, mas eu finalmente identifiquei o problema: a mesquita que fica em frente à nossa casa-barco estava silenciosa. Depois de meio ano ouvindo o chamador de oração - muazenin como é chamado aqui - cinco vezes por dia (incluindo uma por volta das 4h da madrugada), senti falta do "nosso" muazenin. Não que o cara seja muito afinado - a chamada dele parece mais um lamento - mas ele virou nosso velho conhecido sem nunca termos o visto.
Eis que esta semana a tão conhecida chamada de oração voltou à ativa! Bom, ele apareceu uma vez num dia, resolveu chamar a oração da madruga em outro, e aí sumiu de novo. Será que ele está doente e vai aparecer apenas esporadicamente para os moradores da região não se sentirem desolados? Será que na época das férias de verão os muazenin fazem um revezamento para todos poderem aproveitar um pouco a noite egípcia (aguardem notícias do verão em outro post)?
O Cairo tem por volta de 4 mil mesquitas e todas elas contam com o seu muazenin. Na hora da reza a cidade vira uma zona, pois apesar de o horário das orações ser meticulosamente calculado pelos religiosos, os muazenins não são lá muito pontuais (uma característica bastante egípcia) e cada um começa com uma diferença de alguns segundos para o outro. O resultado é que em qualquer lugar do Cairo você é bombardeado por dezenas de vozes, que se misturam e acabam só ajudando a atordoar ainda mais o pobre cidadão, que já tem de sobreviver ao barulho incessante de carros, buzinas e egípcios falando alto nas ruas.
A prefeitura da cidade teve, então, uma idéia "brilhante": unificar a chamada da oração. Apenas um muazenin teria a honrosa tarefa e sua voz seria transmitida ao mesmo tempo para todos os alto-falantes das mesquitas. Pois é, a idéia foi lançada há mais de nove meses e ainda não deu à luz. Os muazenin reclamam que perderiam o emprego. Os moradores argumentam que a chamada de oração ficaria muito impessoal, já que todos se acostumaram com o muazenin do lado da casa deles. Eu concordo. Pode ser uma zona, mas o que aqui no Cairo não é? Não quero que o meu muazenin perca o emprego. Ouvi-lo apenas esporadicamente já foi uma mudança traumática!

Wednesday 8 August 2007

Sempre no meu coração



Para quem ainda não sabe, andei sumida porque uma das pessoas que eu mais amo "passed away" (usei este termo, porque é o que mais se aproxima do que eu acho que aconteceu: passou adiante): o meu irmão querido, aos 33 anos. O Julien e eu fomos para São Paulo ficar com os meus pais durante o mês inteiro de julho e por isso, obviamente, nos ausentamos do blog.
Voltamos ao Cairo há cinco dias e estamos tentando voltar à rotina, assim como os meus pais em São Paulo. Mas não é fácil, embora eu saiba que é possível e uma hora vai dar certo.
Tento acalmar a tristeza olhando para o céu - meu irmão dizia que ao amanhecer e ao entardecer é quando as cores do céu ficam mais bonitas - e pensando que ele está lá, vendo as cores do céu de uma perspectiva privilegiada. Eu também tento falar para eu parar de ser egoísta e querer ele de volta, porque, se ele foi para outro lugar, ele está ainda mais feliz lá do que estava aqui, então eu não tenho o direito de querê-lo de volta aqui. Um amigo do meu irmão disse que quando o pai dele morreu meu irmão disse para ele: "Pôxa, seu pai foi promovido!". Pois é, desta vez foi o meu irmão que foi promovido. E me conforta saber que ele pensava assim e está encarando a nova fase de sua existência com tranqüilidade. Um amigo meu, o Magalee, que perdeu o pai numa tragédia, também me deu um sábio conselho: aceitar logo o que aconteceu para que a dor se transforme em saudade boa. Ele disse que isso vai acontecer. E eu acredito nele.
Se nós, que continuamos aqui, ainda não fomos "promovidos", é porque ainda temos uma missão para cumprir aqui e temos de cumpri-la da melhor forma possível - e para isso temos de estar fortes, felizes e otimistas! E confesso que esta tarefa fica muito mais fácil com os pais maravilhosos que eu tenho e com os amigos queridos que durante este mês de julho mais uma vez me provaram por quê eu penso tanto neles. Má e Paps, força porque a vida continua e o Kizz não quer ver a gente triste! Aliás, ele quer mais do que isso: quer nos ver felizes!
Kizz (era assim que eu chamava meu irmão), fica em paz, seja feliz e fica sempre perto da gente. Daqui do meu coração você não sai nunca. E um dia nós vamos nos encontrar de novo e aí você faz aquela tapioca que você prometeu me fazer! Saudades, saudades, saudades. Te amo, meu irmão.



As fotos deste post são duas das inúmeras fotos tiradas pelo meu irmão, um cara que dedicava grande parte de seu tempo admirando e examinando cada detalhe da linda natureza deste mundo.

Wednesday 27 June 2007

Alá lá ô Ô ô ô ô ô ô, ah que calor ô ô Ô ô ô ô!!!


E ontem à noite quebrou o ar-condicionado do quarto.
O técnico que chamamos para consertar já mandou um: "insha-alah" que vai resolver ainda hoje.
O "insha-alah" significa "se Alá quiser" e o diginíssimo técnico fala isso porque se ele não consertar foi por simples vontade de Alá....
Tô botando muita fé não, acho que dormiremos no quarto com ventilador barulhento ou na sala com o outro ar-condicionado.
Verão Africano não é mole não. Como diz um amigo meu famoso filósofo oriental: "Nesse calor até camelo na bunda sua."

Blairgh, passar bem!


O Tony tá se aposentando lá em UK e agora estão considerendo ele para ser uma espécie de "Embaixador da Paz" para o Oriente Médio, principalmente em relação ao conflito Israel-Palestina.
Ah..tá de sacanagem né!!??

Melhor que minhas palavras, um artigo do Robert Fisk no Independent de 23/06:

Robert Fisk: How can Blair possibly be given this job?
Here is a politician who has failed in everything he has ever tried to do in the Middle East
Published: 23 June 2007
I suppose that astonishment is not the word for it. Stupefaction comes to mind. I simply could not believe my ears in Beirut when a phone call told me that Lord Blair of Kut al-Amara was going to create "Palestine". I checked the date - no, it was not 1 April - but I remain overwhelmed that this vain, deceitful man, this proven liar, a trumped-up lawyer who has the blood of thousands of Arab men, women and children on his hands is really contemplating being "our" Middle East envoy.

Can this really be true? I had always assumed that Balfour, Sykes and Picot were the epitome of Middle Eastern hubris. But Blair? That this ex-prime minister, this man who took his country into the sands of Iraq, should actually believe that he has a role in the region - he whose own preposterous envoy, Lord Levy, made so many secret trips there to absolutely no avail - is now going to sully his hands (and, I fear, our lives) in the world's last colonial war is simply overwhelming.

Of course, he'll be in touch with Mahmoud Abbas, will try to marginalise Hamas, will talk endlessly about "moderates"; and we'll have to listen to him pontificating about morality, how he's absolutely and completely confident that he's doing the right thing (and this, remember, is the same man who postponed a ceasefire in Lebanon last year in order to share George Bush's ridiculous hope of an Israeli victory over Hizbollah) in bringing peace to the Middle East...

Not once - ever - has he apologised. Not once has he said he was sorry for what he did in our name. Yet Lord Blair actually believes - in what must be a record act of self-indulgence for a man who cooked up the fake evidence of Iraq's "weapons of mass destruction" - that he can do good in the Middle East.

For here is a man who is totally discredited in the region - a politician who has signally failed in everything he ever tried to do in the Middle East - now believing that he is the right man to lead the Quartet to patch up "Palestine".

In the hunt for quislings to do our bidding - ie accept even less of Mandate Palestine than Arafat would stomach - I suppose Blair has his uses. His unique blend of ruthlessness and dishonesty will no doubt go down quite well with our local Arab dictators.

And I have a suspicion - always assuming this extraordinary story is not untrue - that Blair will be able to tour around Damascus, even Tehran, in his hunt for "peace", thus paving the way for an American exit strategy in Iraq. But "Palestine"?

The Palestinians held elections - real, copper-bottomed ones, the democratic variety - and Hamas won. But Blair will presumably not be able to talk to Hamas. He'll need to talk only to Abbas's flunkies, to negotiate with an administration described so accurately this week by my old colleague Rami Khoury as a "government of the imagination".

The Americans are talking - and here I am quoting the State Department spokesman, Sean McCormack - about an envoy who can work "with the Palestinians in the Palestinian system" to develop institutions for a "well-governed state". Oh yes, I can see how that would appeal to Lord Blair. He likes well-governed states, lots of "terror laws", plenty of security - though I'm still a bit puzzled about what the "Palestinian system" is meant to be.

It was James Wolfensohn who was originally "our" Middle East envoy, a former World Bank president who left in frustration because he could neither reconstruct Gaza nor work with a "peace process" that was being eroded with every new Jewish settlement and every Qassam rocket fired into Israel. Does Blair think he can do better? What honeyed words will we hear?

I bet he doesn't mention the Israeli wall which is taking so much extra land from the Palestinians. It will be a "security barrier" or a "fence" (like the famous Berlin "fence" which was actually called a "security barrier" by those generous East German Vopo cops of the time).

There will be appeals for restraint "on all sides", endless calls for "moderation", none at all for justice (which is all the people of the Middle East have been pleading for over the past 100 years).

And Israel likes Lord Blair. Indeed, Blair's slippery use of language is likely to appeal to Ehud Olmert, whose government continues to take Arab land for Jews and Jews only as he waits to discover a Palestinian with whom he can "negotiate", Mahmoud Abbas now having the prestige of a rabbit after his forces were crushed in Gaza.

Which of "Palestine"'s two prime ministers will Blair talk to? Why, the one with a collar and tie, of course, who works for Mr Abbas, who will demand more "security", tougher laws, less democracy.

I have never been able to figure out why the Middle East draws the Balfours and the Sykeses and the Blairs into its maw. Once, our favourite trouble-shooter was James Baker - who worked for George W's father until the Israelis got tired of him - and before that we had a whole list of UN Secretary Generals who visited the region, frowned and warned of serious consequences if peace did not soon come.

I recall another man with Blair's pomposity, a certain Kurt Waldheim, who - no longer the UN's boss - actually believed he could be an "envoy" for peace in the Middle East, despite his little wartime career as an intelligence officer for the Wehrmacht's Army Group "E".

His visits - especially to the late King Hussein - came to nothing, of course. But Waldheim's ability to draw a curtain over his wartime past does have one thing in common with Blair. For Waldheim steadfastly, pointedly, repeatedly, refused to acknowledge - ever - that he had ever done anything wrong. Now who does that remind you of?