Sunday 4 November 2007

Chuva de estrelas



Como avisei no primeiro post de Londres, este blog está passando por uma fase de mistura de experiências e readaptação na cidade, como nós. Como ainda tenho algumas coisas para contar do Egito, decidi dedicar este post a uma das melhores viagens que fizemos no país pouco antes de irmos embora: o Monte Sinai.
Quem me conhece sabe que não sou muito religiosa (dizem que foi lá que Moisés recebeu as Tábuas da Lei, com os Dez Mandamentos, de Deus), portanto, o que mais nos atraiu para o monte foi a escalada e a idéia de dormir no topo do local, sob um céu estrelado. O fato de o passeio ser possível de ser feito em um fim-de-semana também vinha a calhar, já que eu não tinha mais nenhum dia de folga antes de irmos embora.
Após mais de oito horas de viagem de ônibus (não contávamos com tudo isso...), já era noite quando chegamos ao pé da montanha. Jantamos e lá fomos nós montanha acima. Existem duas formas de subir: uma, que mais parece uma penitência, é subir os 4 mil degraus, todos irregulares. A outra, mais atraente para o nosso propósito, que era curtir o céu estrelado e conversar com as outras pessoas que iriam escalar conosco, era um caminho de pedra, com 750 degraus no final (nenhum pecador se livra de uma pequena penitência, né?!).



Lá fomos nós dois, uma suíça de uns 50-55 anos, e um casal formado por uma americana e um africano. Porém, antes de chegar ao pé do monte, fomos barrados pela "polícia turística" egípcia, que nos impediu de subir o monte à noite sem um guia. Tentamos argumentar de todas as formas, já que nos disseram que a subida é bastante tranqüila e nada perigosa, mas fomos obrigados a contratar um moleque beduíno para nos acompanhar. O problema é que o moleque e seu camelo logo virou um bando todo, que queria nos empurrar os camelos para subirmos sem nos cansar. A americana, que era gordinha e tinha sérios problemas de locomoção, deixou-se convencer (para nosso alívio, porque levamos 15 minutos para avançar alguns poucos metros, já que tínhamos de parar toda hora para esperá-la) e tentou subir em um camelo. O problema é que a pança da moça era tão gigantesca que não encaixava na sela do camelo... Bom, infelizmente para eles, o casal acabou desisitindo de subir o monte. Fiquei com pena, embora tenha de admitir que senti um alívio de que pelo menos iríamos chegar no topo antes de o sol nascer...
Restamos nós e a suíça. E a subida não poderia ter sido mais mágica. Logo no começo, nós três estávamos olhando para o mesmo ponto do céu, admirando aquele mar de estrelas impressionante, quando uma estrela cadente fortíssima caiu exatamente atrás do topo da montanha. Sentimos que eram as boas-vindas a uma noite especial.


Durante o percurso, podem ser encontradas "vendinhas" como esta, de beduínos, que faturam uma bela grana vendendo chá, refrigerante e chocolate, além de artesanato local.


Após cerca de 3 horas chegamos ao topo, onde alugamos colchonetes e cobertores (estava beeem friozinho lá em cima, sem falar no vento), e apenas com os olhos descobertos, ficamos deitados, olhando dezenas e dezenas de estrelas caírem do céu.
Eu não preguei o olho até o nascer do sol. Eu me senti num lugar muito, muito especial e parecia que cada estrela que caía era meu irmão me dizendo que ele está bem e olhando para nós lá de cima. Foi muito emocionante...
E o nascer do sol, uau... Sentamos em uma pedra em um dos cantos da montanha e fomos premiados com o sol, a lua e uma estrela ao mesmo tempo. Lindo!!!



Descemos o monte sob um solaço escaldante e chegamos ao pé suados, cansados, mas felizes por termos vivido momentos tão especiais. Eu nunca vou esquecer aquele céu, acho que nunca tinha visto tanta estrela na minha vida!
Infelizmente, parece que todos bons momentos no Egito têm seu preço e a volta para o Cairo foi beeeem traumática. Mas isso é assunto para o post dos taxistas, que prometo escrever em breve!

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