Sunday 2 March 2008

Maratona profissional

Depois de uma looonga temporada sem escrever no blog, estou oficialmente de volta! E tenho uma explicação - ou melhor, várias - para a minha ausência. Primeiramente, meu laptop foi hospitalizado. E teve um blecaute geral justamente durante uma viagem a trabalho.
A BBC Brasil está preparando uma série especial sobre as relações do Brasil com seus vizinhos da América do Sul e cinco de nós viajaram para todos os países do continente para produzir matérias de vídeo e Internet para a série. Foram semanas bastante intensas, sendo uma de pré-produção, duas de viagem e... bom, ainda não sei quanto tempo de pós-produção, porque ainda não terminei! Mas desta semana não passa, porque a série começa a ser publicada no dia 10 deste mês.

Bom, não posso dizer que os dois países escolhidos para mim foram os mais estimulantes: Argentina (pois é... again!) e Uruguai. Confesso que não me senti muito confortável na Argentina, com a impressão de que a qualquer momento eu iria ser assaltada ou enganada de alguma forma. Já o Uruguai eu curti bastante. Mas o legal mesmo seria conhecer países onde eu nunca pensaria em passar férias, como a Guiana ou o Suriname. Ou mesmo a Colômbia. Enfim, apesar de horas de trabalho a fio, muito nervoso com a falta de competência do meu "camarógrafo" argentino e um cansaço extremo que me atacou na volta a Londres, sempre há coisas interessantes quando a gente viaja e aqui vão algumas das minhas impressões:


- Passar por uma revista minuciosa no aeroporto de Heathrow justamente na semana em que as normas de bagagem de mão foram relaxadas. Fui avisada por uma das funcionárias da segurança que eu fui "selecionada" para passar por uma revista mais "intensa". A revista incluía uma sala com raio-x (pela qual me recusei a passar - imagina se vou fazer mal a minha saúde só para sossegar um ser que achou que eu tinha cara de terrorista...), tirar sapato (algo que fazia parte da revista rotineira, mas justamente naquela semana não estava mais sendo pedido) e uma apalpação beeem-feita.


- Me sentir parte do "primo rico" do jornalismo. Consegui marcar uma entrevista com o ex-ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, de um dia para o outro. E tenho certeza que o argumento mais poderoso foi eu ser da BBC. No final da entrevista, o Lavagna vira e me diz: "Eu sei que isso pode não parecer muito importante, mas se você tiver chance será que você pode avisar lá em Londres que o áudio da BBC World chega muito baixo aqui? Toda vez tenho de aumentar muito o volume e aí quando a gente muda de canal, ficamos surdos..." Hahahahaha! Prometi avisar o pessoal aqui e confesso que ainda não tive tempo para tal. Mas prometo fazê-lo, Lavagna!


- Comer mal na Argentina só porque não como carne. Um amigo dos meus tempos de colégio, o Paul, que mora em Buenos Aires, me disse que tem uma amiga vegetariana que abre uma exceção na Argentina, onde se vê obrigada a comer uma das melhores carnes do mundo. Convicta como sou decidi me virar sem a carne. Tive três refeições muito boas durante os sete dias no país e descobri que Buenos Aires tem uma semelhança com São Paulo: boa comida italiana (algo que aqui em Londres, apesar de estar mais próxima da Itália, é uma raridade). Além de ter o rodízio de sushi mais fashion e criativo que já comi!

Bom, as refeições infelizes foram omelete crua, peixe grelhado sem tempero e seco (detalhe: passado na farinha antes de ir para a grelha! Os caras não têm noção....) e vááários tostex de queijo e tomate (do serviço de quarto do hotel, que não tinha UM prato sem carne, então eu pedia para tirar o presunto do bauru deles).


- Ter a certeza de que nunca mais vou comer carne depois de visitar um frigorífico no Uruguai comprado por uma empresa brasileira. Quando o camarógrafo (adorei essa palavra!) e eu entramos na primeira sala, onde os bois ainda estão inteirinhos e começam a ser desfigurados para virarem o que depois vai parar no seu prato, pensei que não ia agüentar. O cheiro de sangue daquele lugar, todos os trabalhadores com aventais de plástico completamente ensangüentados, o boizinho dependurado apenas por uma patinha de trás, com a língua de fora... Ambiente pesado. Só de lembrar me dá mal-estar de novo. Rios de sangue, os bichos pendurados ali, eu tendo de passar por debaixo deles, com medo de escorregar no chão e cair naquela gosma de sangue, aaargh!!!!

Bom, mas gravei uma passagem (a parte em que o repórter aparece na matéria de TV) lá dentro! Quando é que teria essa "oportunidade" de novo, de estar vestida de branco, com capacete, dentro de um frigorífico? Nem se eu quisesse!





Vista das ramblas do quarto do meu hotel em Montevidéu

- As ramblas (o calçadão à beira da praia) de Montevidéu no começo da noite. Primeiramente, foi o máximo descobrir que ali embaixo também escurece supertarde no verão (assim como na Europa). Às 21h ainda está claro, delícia absoluta! As ramblas ficam cheias de pessoas caminhando, fazendo cooper, jovens sentados nos bancos ou no chão tomando chimarrão... Um clima de praia muito gostoso. E pelo menos tive tempo de dar duas corridinhas por ali também!





- Os táxis com uma proteção improvisada entre o motorista e o passageiro, uma espécie de black cab londrino falsificado. Quem não viu ao vivo pelo menos já deve ter visto nos filmes que os tradicionais táxis daqui têm uma divisão entre o motorista e a parte para os passageiros. Uma lei no Uruguai obrigou os taxistas a fazer o mesmo lá. Só que existe uma "sutil" diferença: os black cabs têm um imenso espaço para os passageiros - comportam cinco pessoas facilmente, além de malas no meio. No Uruguai, são carros normais em que eles instalaram uma parede divisória no meio, às vezes bastante tosca, com brechas de dois dedos no teto ou dos lados. O detalhe é que um passageiro com pernas mais compridas fica entalado ali atrás e já o camarógrafo e eu tínhamos problemas para nos instalar na parte de trás com tripé e câmera. Mas um taxista uruguaio disse que a medida evita assaltos e que ele se sente muito mais seguro assim. E que São Paulo deveria adotar a lei, já que lá tem muito mais violência que em Montevidéu. É de se pensar...



- A mais recente moda no setor de propaganda em Punta del Este: em vez de distribuir panfletos vendendo restaurantes e boates ou de prendê-los no pára-brisa do seu carro, as pessoas colam adesivos no vidro de trás do seu carro. Você estaciona seu carro para curtir uma horinha de praia e na volta seu carro já está assim:



Me disseram que os idealizadores da "brilhante" idéia simplesmente supuseram que todos os motoristas gostam de adesivos nos carros e acharam simpático brindá-los com alguns. Pergunta: custa prendê-los no pára-brisa e cada um escolhe se cola ou não???

Ufa! Melhor parar por aqui, senão o tamanho do texto vai desencorajar vocês de lê-lo!
A parte ruim de viajar a trabalho são as saudades que eu sinto das pessoas que eu amo. E por isso foi bom abraçar meus pais e alguns dos meus amigos mais especiais na escala obrigatória de 24 horas que eu tive de fazer em Sampa na volta a Londres. E por isso foi bom sair do verão sul-americano para uma cidade gelada onde tenho o aconchego do Julien. E, Kizz, você esteve comigo durante toda a viagem. Nas ondas da praia que eu via da janela do meu hotel em Montevidéu e nas lindas tardes de céu colorido que eu vi por lá.




Pôr-do-sol em Punta del Este, onde assisti a um show de MPB na sexta-feira antes de voltar.

É bom voltar para um lugar onde me sinto em casa e percebi que vai ser mais difícil do que pensei sair desta cidade!

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