Wednesday 9 April 2008

Simplicidade indiana



Como prometido, vou começar a contar sobre a nossa viagem à Índia, começando pela nossa chegada em Delhi, onde ficamos hospedados na casa do meu amigo indiano Sushil, que entrou na BBC junto comigo, há 3 anos e meio, e trabalhou aqui em Londres durante um ano antes de voltar a Delhi (por não agüentar o tempo escabroso da cidade, a comida britânica e a falta da namorada indiana).

Antes da viagem, quando falamos para ele que iríamos ficar em um hotel em Delhi ele considerou a idéia uma ofensa e disse que seria a maior vergonha para ele não nos hospedar em casa. Então lá fomos nós para a casa de um indiano solteiro, originário de uma micro-cidade sem energia elétrica do Estado de Bihar, uma das regiões menos desenvolvidas da Índia.

A casinha era bem simples. Dêem só uma olhada:



Aqui o Julien enrolando para acordar no quarto, apesar do colchão batante duro. Além do colchão, havia um pequeno armário - este que vocês vêem aí, com todas as roupas do meu amigo - uma TV e a geladeira.



A cozinha contava com duas panelas - uma para ferver o leite matinal, uma frigideira para fazer um arroz apimentado com cebola frita para o típico café-da-manhã indiano, e apenas duas colheres, um garfo e uma faca.



No banheiro, não havia chuveiro - pelo menos não da forma à qual estamos acostumados. Eram duas torneiras, um balde e uma canequinha. A boa notícia é que a privada era como a que costumamos usar, já que a típica privada indiana é um buraco no chão.

Comparei a casa do meu amigo com a nossa em Londres e me perguntei como somos capazes de juntar tanta bugiganga, que achamos necessária, enquanto que outras pessoas vivem com tão pouco – e não é por falta de recursos e sim porque estão acostumadas a uma vida menos materialista.

No mesmo sábado em que chegamos a Delhi fomos convidados para jantar na casa da namorada do meu amigo. Aliás, eles namoram há alguns anos, mas toda a família dela finje não saber de nada e nós recebemos um pedido dele para não comentar sobre o assunto, já que é tabu na casa. Diz ele que os dois só podem se casar depois que as duas irmãs mais velhas da namorada casarem. Sem ninguém saber (não me perguntem quantos sabem), a namorada visita meu amigo no apartamento dele pelo menos duas vezes por semana, onde eles fazem coisas que só deveriam fazer depois do casamento…

Bom, voltando à visita à casa da família Jha: 23 pessoas moram na casa e o tio da namorada, que é o “dono” da casa, nos mostrou todos os cômodos. É uma casa bem grande, com vários quartos, mas mais uma vez me impressionou a falta de tralhas desnecessárias. O fogão era como o do meu amigo: daqueles parecidos com os de camping, com duas bocas, e ele fica no chão da cozinha, onde as mulheres se sentam para cozinhar. O chuveiro, obviamente de torneira e balde, e a privada indiana.
Na sala, além de um sofá, duas poltronas e uma TV, existe um colchãozão no chão, onde todos se reúnem todas as noites antes de jantar para discutir os resultados de uma tarefa estipulada durante o dia. Naquela noite, todos tinham de falar o que foi notícia naquele dia e todos os jovens e crianças trouxeram suas anotações. Depois, todos fecham os olhos e cantam. Foi bem emocionante e foi legal ver como a família Jha é unida. Eles não apenas coabitam na mesma casa, mas interagem e valorizam a vida em família.

O jantar foi estranho. A comida estava ótima, apesar de termos visto de onde veio o peixe que estava no nosso prato (conto no próximo post!), mas eu era a única mulher na mesa. Os homens e eu sentados e as mulheres servindo mais quando a comida acabava e comendo na cozinha. Não consigo me acostumar à idéia de tratamento distinto dependendo do sexo da pessoa... Aliás, filha mulher é considerada um fardo tão grande na Índia que várias bebês ainda são mortas na hora do nascimento.
Bom, mas foi uma noite bem diferente, um aperitivo de muitas experiências legais que tivemos durante a nossa viagem!

P.S.: Escrevo mais apenas na semana que vem, já que estamos viajando para Paris hoje à noite, onde vamos passar cinco dias! Aliás, temos visita dupla em casa: minhas amigas Tati e Si! :-)

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