Thursday 31 January 2008

"Stop and Search " ou "Cadê o documento vagabundo?"

Duas novas leis estão sendo debatidas no Parlamento aqui em UK, uma é “anti-terror law” e propõe aumentar dos atuais 28 dias para até 90 dias o tempo que um suspeito de terrorismo pode ficar preso sem que exista sobre ele nenhuma prova ou queixa formal, apenas suspeitas. Bom, Guantanamo já bateu todos os recordes de prisão por tempo indeterminado no mundo "livre e democrata".
Outra lei que surgiu essa semana é mais "caseira" e propõe dar para a polícia o direito de "stop and search" qualquer pessoa a partir do momento que o policial acreditar que exista um "comportamento suspeito" do cidadão ou cidadã.
Essa na verdade não é uma lei tão nova, em 1984 ela foi usada pela primeira vêz para combater a violência urbana e o terror do IRA., mas foi abandonada depois de milhares e milhares de casos de abuso contra os asiáticos (aqui em UK leia-se Paquistaneses/Indianos etc) e negros foram reportados.
O objetivo em reviver a lei do “Stop and Search” é combater um crime que está se tornando comum por essas bandas: as brigas de gangs que muitas vezes terminam em facadas e em morte. Será que isso realmente vai resolver?
Não vou discorrer sobre o que pode ser feito para previnir esse tipo de crime, acho que qualquer brazuca sabe isso de cor e salteado, experiência não falta.
E todo bom brasileiro também sabe que quanto mais poder a polícia tem sobre o cidadao, mais o abuso desse poder acontece, experimenta ser parado sem documentos pela polícia brasileira...ah vagabundo vai pra cana.
Pensei em escrever sobre essas leis 2 dias atrás quando estava eu andando numa rua perto de casa e vi um baita carrão, um Mercedes Benz SLR McLaren, encostado com as portas abertas - e estas abrem para cima - e um policial parado ao lado do carro em posição de "preparado para tudo", logo atrás do carro uma outra policial falava ao rádio da viatura, provavelmente checando os dados do carro e do motorista. Sabe quanto custa um Mercedes Benz SLR McLaren novo?
Por volta de 320 mil libras, ou 1.300.000,00 reais.
Sabe qual a cor do motorista?

Saturday 12 January 2008

É tempo de consumir



Nada como um sabadão frio (porém ensolarado, milagre!) e uma gripe que já vem me deixando imprestável há três dias para escrever o primeiro post de 2008. Foi um final de ano corrido, com a primeira visita dos meus pais a Londres - e conseqüentemente a corrida insana contra o tempo para dar-lhes uma idéia das coisas legais que descobrimos aqui nos últimos 3 anos e meio - e com a viagem de Ano Novo aos alpes austríacos para aplicar os ensinamentos de esqui do ano passado. Para quem não sabe, aprendemos a esquiar na virada de 2006 para 2007 e esta agora foi a nossa segunda tentativa. A evolução foi notada na pele: no ano passado, voltei para a casa parecendo um dálmata, com mais de 30 manchas roxas, azuis, verdes e amarelas pelo corpo. Este ano... 5 apenas! Ok, ok, e um joelho machucado. Mesmo assim, fechei com saldo positivo!



Diferentemente do Brasil, onde o Natal e o Ano Novo são a cerimônia de abertura de mais uma temporada deliciosa de verão, aqui as festas são o único ponto alto do inverno. Portanto, quando a época de festas termina, começa um período melancólico de hibernação. Mas os habitantes do hemisfério norte encontraram uma forma bem feminina de afugentar a depressão: a temporada de liquidações! Tudo começa logo depois do Natal, dia 26 de dezembro, no chamado Boxing Day. O nome sempre nos intrigou e o Julien tinha encontrado uma explicação bastante condizente com a realidade atual: a troca de caixas de presentes, ou seja, o dia em que você troca aquilo que não te serviu (em tamanho ou em gosto). Mas a Wikipédia dá uma outra explicação para o Boxing Day, que dataria da Idade Média e seria o dia em que as pessoas mais abastadas dão presentes aos empregados ou às pessoas de classes sociais mais baixas. Porém, a prática parece ter sido totalmente esquecida numa das terras mais consumistas que conheço e atualmente todos estão muito mais preocupados em aproveitar o dia para dar presentes para si mesmo.


As "winter sales", no entanto, têm seus atrativos. E a abertura não está entre eles. Quando cheguei em Londres prometi a mim mesma que um dia eu enfrentaria o frio e a escuridão de uma madrugada do dia 26 só para participar daquele momento que TVs do mundo inteiro exibem, de pessoas na porta de lojas de departamentos como Harrods e Selfridges correndo e se acotovelando entre o mar de gente para garantir bolsas e outros artigos de marcas caras (muitas vendidas posteriormente no eBay). Levanto as mãos para os céus em agradecimento por meu espírito consumista não ter chegado a tal ponto...
Mas, vamos às vantagens: diferentemente do Brasil, a palavra liquidação realmente é levada ao pé da letra. Nada de anúncios de "descontos de até 50%" e entrar na loja e perceber que apenas a peça de roupa mais encalhada e horrível está pela metade do preço enquanto que todos os outros artigos têm descontos de no máximo 10%. É na temporada de winter sales que tenho coragem de entrar em lojas que considero caras o ano todo e me dar ao luxo de comprar peças de qualidade por um preço que não desperta em mim o sentimento de ter sido explorada. Além disso, existem as irresistíveis barganhas: peças que custam três ou até quatro vezes menos do que custavam até o dia 24 de dezembro. Até agora consegui me conter e nem passei perto das lojas (apesar de já ter comprado um casaco de frio pela metade do preço mesmo antes da temporada de liquidações, já que várias lojas andaram se antecipando nos descontos para aumentar as vendas de Natal), pois é praticamente impossível evitar a compra de algo desnecessário só pelo prazer de falar que você comprou por quatro vezes menos do que o preço original...
E quem acha que as liquidações se limitam a bolsas, sapatos e roupas está enganado. Para quem está montando ou redecorando a casa, lojas de móveis veiculam anúncios tentadores, como sofás de 999 libras por 499. Para quem quer preparar a lista de leitura para 2008, lojas de livros exibem descontos em grande parte das obras, incluindo best-sellers e lançamentos. Até supermercados, como uma das maiores redes britânicas, o Tesco, propagandeiam produtos pela metade do preço.
As liquidações duram "até o fim dos estoques" ou normalmente até o fim de janeiro, sendo que os preços vão ficando cada vez menores. E se nunca participei do começo das winter sales, sempre dou um pulinho nas lojas no final, já que é hora da "xepa" e o que sobrou pode não ser o objeto de desejo de muita gente, mas às vezes é justamente o que faltava no meu guarda-roupa. E por um preço inacreditavelmente irrisório!