Monday 6 April 2009

Quem decide é o bebê



Sei que estou devendo este post há mais de duas semanas. Duas semanas extremamente intensas emocionalmente e desgastantes fisicamente (tanto que estou tentando escrever este post há três dias e nunca consigo conclui-lo!). Bom, vamos lá à minha experiência de parto!

Na sexta-feira, dia 20 de março, um amigo nosso, o André, que é fotógrafo, veio aqui em casa dar um presentão para nós: fotos profissas dos pais grávidos (uma vocês conferem aqui). Fiquei um tanto quanto nervosa antes do "ensaio fotográfico", já que sou meio tímida e não me acho lá muito fotogênica... Mas profissional como o André é, até que ficamos bem à vontade na hora H.

De qualquer forma, durante a semana toda, senti que algo não estava muito certo, estava sentindo uma tristeza e um desânimo inexplicáveis, sentimentos opostos aos que eu tive durante toda minha gravidez - que curti à beça!

Bom, terminadas as fotos, senti um corrimento um pouco acima do normal e meu coração acelerou. Será que é a bolsa rompendo? Mas será que sai assim pouquinho? O Julien achou bobagem e falou que não era possível.

Assim que o André foi embora, resolvemos ir ao supermercado para comprar mantimentos para a chegada da minha mãe no domingo. Ela queria porque queria chegar antes do nascimento para ainda me ver barriguda e como eu tinha certeza que a Mila iria atrasar, achei que vir 10 dias antes da data prevista já estava de bom tamanho.

Ao pisar no supermercado senti muuuita água descendo pelas minhas pernas.
"Julien, agora tenho certeza, tô encharcada. Vamos pra casa porque rompeu a bolsa!" Nós dois, despreparados para um eventual nascimento antes da data, estávamos sem um número de telefone do hospital. Respirei fundo e expliquei ao Julien que ainda tínhamos muuuito tempo, já que não estava sentindo nenhuma contração ainda e o primeiro estágio do trabalho de parto, que pode durar horas a fio, normalmente se passa em casa. Pegamos o ônibus, fomos para a casa e ligamos para o hospital, que pediu para irmos até lá para checarem o líquido da bolsa.

Crentes que iríamos voltar para a casa (aqui te mandam de volta para a casa até suas contrações ficarem insuportáveis e você estar com certa dilatação) saímos sem mala pronta (pois é, eu não tinha arrumado minha mala nem da Mila ainda, apesar da insistência do Julien...) e fomos conferir em que estágio estava o processo.

Fomos direto para o centro de partos, onde eu planejava ter a Mila dentro da água, mas assim que a midwife analisou o conteúdo da minha bolsa, meus planos começaram a desmanchar no ar. A Mila tinha feito mecônio (o primeiro cocô do bebê) dentro da placenta (ao invés de fora, depois de nascer) e portanto precisava ser monitorada constantemente, o que não poderia ser feito no centro de partos e sim apenas na maternidade tradicional. Fiquei arrasada e extremamente decepcionada.

Fomos então transferidos para o andar de baixo, para uma sala típica de hospital, cheia de máquinas, com uma cama de hospital, tudo o que eu não queria. Tentei esquecer do que tinha dado errado e seguir em frente para pelo menos ter um parto em terra sem intervenções médicas.

Para isso estendi minha esteira de ioga no chão e usei todas as posições que aprendi na minha aula de ioga para grávidas para aumentar minhas contrações. Ajudei com aromaterapia e remédios homeopáticos, pois sabia que por causa do mecônio eu não tinha todo o tempo do mundo para ela nascer (segundo as midwifes, existe o risco de o bebê estressar na barriga e acabar aspirando mecônio, o que pode até ser fatal). Enquanto a maioria das grávidas quer sentir menos dor na hora do parto eu torcia para ter contrações mais e mais doloridas, porque isso seria um sinal de que a Mila estaria chegando logo!

Depois de umas 8 horas fui examinada: 2 cm de dilatação (dos 10 cm necessários para o bebê sair!)... Não tinha mais jeito. Uma médica recomendou que acelerássemos o processo com uma indução, ou seja, a introdução de uma imitação da oxitocina, o hormônio que estimula as contrações. Apesar de não ter sonhado com isso, aceitei a intervenção. Pelo menos, ainda havia grandes chances de um parto normal...

Mas aí veio o grande choque. Depois de uma das médicas examinar minha barriga, ela ficou encafifada e resolveu pegar uma máquina de ultrassom para checar a posição da Mila na barriga. Lá estava minha buni na tela, sem eu conseguir identificar qual imagem correspondia a qual parte do corpo. A médica parou com o ultrassom logo abaixo do meu peito esquerdo e ficou olhando para a imagem na tela.

Eu perguntei: "Que parte é essa?"
Silêncio desesperador de alguns segundos que pareciam horas para nós dois.
"A cabeça."

Não. Não, não, não!!!! A Mila estava invertida, com a bunda para baixo!!! Não acreditei e pedi à médica para ela estar brincando. Chorei muito, incrédula, já que em todos os exames manuais durante a gravidez os médicos e as midwifes me disseram que a Mila estava na melhor posição para nascer (com a cabeça para baixo e a coluna do lado esquerdo da barriga). Naquele momento o fantasma da cesárea começou a me aterrorizar.

Após alguns minutos, enquanto tentava digerir o grande choque, entra outra médica e nos explica nossas possibilidades: a mais segura, uma cesárea. A mais arriscada, um parto vaginal, com a ressalva de que é minha primeira gravidez e portanto meu canal é mais estreito e o bebê aparentemente grande, o que poderia fazer com que ela fique presa no meio do caminho e sofresse asfixia ou aspirasse mecônio.

Saíram da sala e nos deram um tempo para pensar sobre as possibilidades, embora já estivéssemos praticamente convencidos de que a melhor saída seria mesmo uma cesárea. Por desencargo quis consultar um livro que me acompanhou durante toda a gravidez (ótimo, aliás: Birth and Beyond, do Yehudi Gordon), que no meu caso também aconselhava uma cesárea. Batemos o martelo e começaram os preparativos para a operação. Nem preciso falar que fiquei arrasada...

O mais impressionante foi que as contrações, que até então estavam ficando cada vez mais sofridas, passaram a ficar insuportáveis porque perderam completamente o sentido para mim naquele momento. Até então, as contrações eram sinal de que a Mila estava chegando cada vez mais perto de nós, mas a partir do momento em que eu saquei que ela não poderia mais sair pelas vias normais, as contrações perderam o sentido e passei a sentir muita, muita dor até me enfiarem uma baita agulha na espinha e anestesiarem todo meu corpo do peito para baixo. Foram mais de 10 horas de contrações para 4 cm de dilatação.

A operação foi horrível. Me deu uma tremedeira incontrolável e, apesar de você teoricamente não sentir dor (senti certa dor no meu peito quando já estavam no processo de costura), você sente os médicos repuxando tudo na região abdominal, parece que estão sovando massa de pão, sei lá. Um horror. O Julien ficou sentado do meu lado, na altura da minha cabeça, e não vimos nada porque foi levantada uma cortina logo abaixo do meu peito (e o Julien, apesar de poder ver a operação, preferiu não olhar).

Quando finalmente chegou o momento de retirada da Mila, a cortina foi abaixada e me senti no paraíso. Vi aquele serzinho pequenino, loirinho, com os olhos arregalados, olhando para mim e imediatamente comecei a chorar de emoção, alívio, felicidade, um mar de sentimentos tão, tão bons... Foi inacreditável, incrível, um verdadeiro milagre, ver que depois de nove meses e um parto sofrido saiu um ser tão incrível lá de dentro.

A Mila foi levada para uma mesa a alguns metros da mesa de operação, acompanhada do Julien, que cortou o resto do cordão umbilical dela. Ali ela foi enxugada, pesada e examinada. Depois de alguns minutos, o Julien veio com ela para a mesa de operações e ela foi colocada logo abaixo do meu colo, onde inundei a nossa filhota com lágrimas.

A experiência foi bem diferente do que eu sonhava. Até hoje ainda choro quando penso a respeito e ainda estou tentando lidar com tudo o que aconteceu. Às vezes me culpo, achando que estressei a Mila a ponto de fazer ela soltar o mecônio na placenta (talvez as fotos, talvez a ioga, não sei, não sei...). Outras vezes fico revoltada com o sistema de saúde daqui, que só prevê dois ultrassons durante toda a gravidez, sendo o último às 20 semanas. Se eu soubesse que os médicos poderiam errar tão feio a posição do bebê no útero, teria pago um ultrassom particular por volta das 35 semanas, quando eu ainda poderia tentar mudar a posição da Mila para ter um parto normal.

Mas tento colocar na minha cabeça que tive o parto perfeito. Perfeito porque o resultado foi perfeito. A Mila saiu, saudável e linda. E durante toda a gravidez eu sempre tentei colocar na minha cabeça que quem decide como vai chegar ao mundo é o bebê e não à mãe e por mais que eu tivesse um plano de parto, a Mila sairia como ela bem entendesse. E se o desejo dela foi ficar sentadinha durante toda a gravidez e enganar os médicos, o que eu posso fazer, não é?!

Bom, aguardem o próximo post, pois tenho mais queixas do sistema de saúde daqui. Outro parto começou dois dias depois de termos sido liberadas do hospital...

1 comment:

  1. Juliana Yonezawa Lemos9 April 2009 at 22:26

    Primeiro comentário: Parabéns ao casal e parabéns ao fotografo. A foto do post está linda. A Mila vai adorar vê-la daqui a alguns anos!!

    Tava mesmo louca pra saber como foi o parto, que sofrimento hein::

    Mas como vc mesma disse, o resultado foi maravilhoso!! Viva a Mila!!

    Super beijo pra família toda. To muito feliz por vcs!!!

    Ju

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