Friday 22 June 2007

Cruzando a fronteira



Todos os meus colegas jornalistas egípcios aqui no Cairo têm dois passaportes: um para viajar para quase todos os países do mundo e um reservado apenas para ir a Israel. A explicação é que uma vez que Israel mete o carimbão que você entrou no país, todos os outros países árabes torcem o nariz e negam entrada assim que avistam as boas vindas israelenses concedidas a você.
Ao cruzar a fronteira da Jordânia para Israel me aproveitei dos meus dois passaportes - que obviamente tenho por outros motivos - e guardei o que costumo usar nos países árabes, mostrando a Israel o outro - no caso, o brasileiro. Aqueles que não têm dois passaportes não precisam se preocupar. O recurso de ter dois é apenas preventivo, já que dá para você pedir para não carimbar o seu passaporte. O problema é que tudo depende do humor dos jovens de 20 e poucos anos na fronteira...
Pois bem, lá fui eu cruzar a fronteira da Jordânia com Israel, que, confesso que era algo que esperava ansiosamente fazer. Afinal, que graça tem trabalhar no Oriente Médio e não cruzar a fronteira para Israel a pé ou de carro? Imaginava policiais revistando minha malas, me interrogando sobre o que eu estava indo fazer em Israel, horas e horas a fio esperando ser liberada para atravessar...
Graças a um esquema VIP organizado para mim, pouco do que eu imaginava se concretizou.
A primeira etapa foi chegar de carro de Amã à Allenby Bridge, também conhecida como King Hussein Bridge, onde fica o terminal de passagem da Jordânia para Jericó, na Cisjordânia. Qual não foi minha surpresa ao entrar numa sala com ar-condicionado e cafezinho árabe para pagar a taxa de passagem e aguardar os preparativos para a travessia? VIP é outra coisa...
Bom, depois de uma meia hora, um outro brasileiro (coincidência absoluta!) e outros quatro gringos entram comigo em uma van, com as nossas malas, e pegamos a estrada para Jericó. Nos 10 minutos de viagem você só vê deserto dos dois lados, além de alguns postos de vigilância e um checkpoint, em que apenas checaram nossos passaportes rapidamente.
Porém, chegando em Jericó, no terminal controlado por Israel, era hora de ganhar uma canseira dos israelenses... O coitado do brasileiro, que trabalha em uma empresa de segurança, levou mais canseira do que eu. Ele pediu para não carimbarem o passaporte. A jovem soldado pareceu indignada e perguntou: "Por quê você não quer carimbo no passaporte?" Ou a menina estava no primeiro dia de trabalho ou só queria dificultar a vida do cara...
Os árabes são os que menos se conformam com esta situação toda. Um senhor, que também estava na salinha do esquema VIP, tomando água gelada grátis para se refrescar um pouco do calor, esperou a soldado terminar de me "interrogar" e disse: "Você não tem de responder tanta coisa para eles, deu muita informação que não pediram. Tem de ser suscinta, dar respostas curtas e grossas". Se ele lesse meus textos saberia que tenho dificuldades em não falar demais!



Não tenho fotos da fronteira, então coloquei aqui duas de outro checkpoint, de Ramallah para Jerusalém.

2 comments:

  1. Faz mais ou menos uma hora e meia que eu tô lendo tudo isso aqui. Li tuuuudo, desde o comecinho. Adorei os origamis de toalhas (o de tartaruga é, mesmo, o mais lindo!), tive medo da tempestade de pó e ainda não acredito que você comeu peixe podre, loirúda!!! e amanhã mesmo vou atrás de comprar uma bóia daquela que a muçulmana usava no mar. :)

    Que delícia ler isso tudo. que delícia! Me deixa mais orgulhosa de vocês e com mais e mais saudades. Já virou minha leitura obrigatória!

    Ju, não esqueci de você. Te escrevo ainda esta semana, pra falar dos possíveis boletecos.

    Muitos, muitos beijos.

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  2. Êêêêêêêêê!!!!! Adorei ter a sua visita aqui!!! Que bom que você gostou e virou leitora!! Também estamos com muitas saudades!!!
    Beijo!

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