Saturday 16 June 2007

Porque hoje é sábado!

Sim, hoje é sábado, mas não vou falar de hoje e sim do sábado retrasado, quando eu estava em Jerusalém. Começo na sexta à noite, quando o Shabat, o dia de descanso dos judeus, tinha começado (ele vai do pôr-do-sol de sexta até o pôr-do-sol de sábado). Não sei por quê, sempre associei o Shabat à proibição de dirigir e usar elevador, apesar de saber que as restrições eram muito mais amplas. Descobri algumas quando fui pedir algo para comer à noite pelo room service (como estava trabalhando como uma camela, virei cliente do room service, os atendentes até já sabiam meu nome e o número do quarto, que tristeza...). A conversa foi mais ou menos assim:
- Shalom. Qual é a sopa do dia? (Tentei ser light...)
- Não tem sopa hoje. É Shabat e não podemos esquentar a sopa.
- Bom, então eu queria o sanduíche norueguês. (Uma torrada com salmão de nome chique)
- Também não podemos servir, porque o pão é torrado e não podemos torrar o pão.
- Tudo bem, me dá o pão sem torrar mesmo. Ah, e um suco de grapefruit natural, por favor.
- Não tem suco natural, não podemos espremer a fruta.
- Tudo bem, me dá uma água então!
Me deu vontade de perguntar o que eles estavam fazendo na cozinha se não podiam servir os clientes do hotel de maneira decente...
Na manhã seguinte, o café-da-manhã foi outra experiência única. Para a minha surpresa, ao descer para o restaurante avistei três judeus ortodoxos DENTRO do elevador! Entrei para ver qual era a pegadinha. O elevador estava no piloto automático! Parava de dois em dois andares e todo mundo entrava sem precisar apertar o botão. Quer dizer que usar elevador pode, só não pode apertar o botão???? Que os judeus não me levem a mal, mas isso tem cara de gambiarra...
Café-da-manhã: garrafas térmicas com café preparado antes do início do Shabat (vejam bem: antes do pôr-do-sol, mais de 12 horas antes, imaginem a temperatura do café), ovo cozido gelado (também preparado antes do Shabat) e o mais revoltante: confiscaram o espremedor de frutas do restaurante! Nada de suco natural!
Eu não estou falando de um hotel de uma estrela de meia-pataca dirigida por um judeu ortodoxo. Estou falando do Crowne Plaza de Jerusalém, com centenas de quartos, que recebe hóspedes do mundo todo. Eu respeito o Shabat, acho inclusive muito legal a idéia de reservar um dia para meditação, confraternização e descanso absoluto, mas obrigar os outros a segui-lo é, no mínimo, desnecessário.
Ô, gerente do Crowne Plaza, bota uns árabes na cozinha para atender os clientes que querem seguir a vida normalmente no sábado! E deixa o espremedor de frutas no restaurante para aqueles que não se importam em tocar nele no sábado!



Olhem aí os judeus rezando no muro das lamentações no Shabat. Aliás, era o único dia em que não podia tirar foto ali. Tirei umazinha, de cima de uma cadeira, do lado das mulheres. Não sei de quem foi a infeliz idéia, mas alguém resolveu acabar com uma das conquistas das mulheres, que era rezar juntamente com os homens no muro. Existe uma cerca dividindo homens e mulheres - algo que não existia nos anos 20. O mais revoltante é que o espaço para as mulheres é um terço do tamanho do dos homens. Será que existem três vezes mais judeus do que judias em Jerusalém???

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