Thursday 5 April 2007

Páscoa no Egito?



Amanhã não é Sexta-feira Santa e domingo não é Páscoa aqui no Egito, mas na segunda-feira, dia 9, os egípcios comemoram o Sham el Nessim. Para mim era apenas um dia de feriado – no qual vou trabalhar, de qualquer maneira - com um nome engraçado.
Isso até os meus colegas do escritório – todos egípcios – resolverem invadir a cozinha com um peixe chamado “feseekh”. Os mais simpáticos me recomendaram ir para a casa mais cedo, dizendo que em poucos minutos o cheiro de podridão iria tomar conta do ambiente. Os amantes do tal fessekh queriam que eu experimentasse o dito cujo e me contaram um pouco sobre as tradições do Sham el Nessim.
Encantada com a história bucólica do feriado, resolvi dar uma googlada para saber mais. Sham el Nessim quer dizer “aspirar a brisa” e marca o início da primavera no Egito. Acredita-se que ele seja comemorado há mais de 4,5 mil anos, sempre um dia após a Páscoa cristã. Neste dia, de manhã, as pessoas costumam sair de casa para aspirar o ar, que elas acreditam ter um efeito especialmente benéfico. Muitas vão para o campo ou fazem passeios de barco. Os que não podem sair do Cairo, se espremem nas poucas áreas verdes da cidade. E fazem piquenique - quando voltamos ao “feseekh”.
Para o meu azar, na minha googlada também surgiram detalhes sobre o tal peixe, que não tem cheiro de podre por acaso. Ele É podre!!!!
A tradição diz que o feseekh é o resultado de peixes armazenados em contêineres, onde ficam até incharem. Quando a putrefação deles está evidente, eles são salgados e ficam curtindo durante alguns meses.
Parece que, todos os anos, uns dez egípcios morrem vítimas de botulismo por causa do peixe. Muitos trocaram o feseekh por atum em lata por achar que o bicho podre não é saudável.
Bom, mas como uma apreciadora do espécime marinho, tive de encarar o desafio. Como quase todas as comidas egípcias – o peixe é dividido e comido em grupo, com pão, nacos de cebolinha e limão espremido em cima. Aliás, adoro essa comunhão na hora de comer, é muito buni!
Confesso, no entanto, que achei o peixe MUITO ruim e, pela primeira vez, comi algo com cheiro de podre que também tinha gosto de podre (não existe queijo no mundo que me espante pelo cheiro, porque sei que não tem como o gosto ser ruim)! Pelo menos posso me orgulhar, porque uma colega egípcia do escritório nunca sequer experimentou o feseekh e eu, a gringa, engoli!
A experiência não pára por aí. Depois de comer, as recomendações dos colegas eram: “Você tem o telefone da sua embaixada à mão, no caso de passar mal, né?!”, “Não encane com o cheiro nas mãos, deve durar alguns dias. Lave com limão e pó de café para sair”, “Ah! E não tome muita água. Você vai desidratar, é natural, por causa do excesso de sal e da cebolinha, mas muita água dificulta a digestão”
Resultado: estou aqui, na frente do computador, sedenta, com as mãos fedidas e o estômago embrulhado! Só espero estar viva no feriado!
Feliz Páscoa!



Olhem a "delicatesse" egípcia aí, armazenada de forma nada confiável...

3 comments:

  1. Eu nunca ia provar esse peixe. Já não gosto de peixe..ainda mais podre!!!!Comi hj Frango Com quiabo..ta valendo pra sexta feira santa..

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  2. Brincadeira, a gente no Brasil tendo que comer bacalhau a Gomes Sá, bacalhau grelhado, bolinho de bacalhau, bacalhau do Pipo e vocês aí, se esbaldando com peixe podre...muito injusto!
    Felz Páscoa!

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  3. Respekt!Que "ovinho" gostoso...E o Julien deve ter te recebido com aquele beijao...Ce nao ofereceu aquele ovo da Nestlé cheio de bonbons? Quem sabe eles nao resolvem adotar... Soube que na China a casta já compra ovos de chocolate por até 200€ - sem dúvida o potencial de mercado do "nosso" símbolo pascal é bem maior que dos egípsios.

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