Tuesday 3 February 2009

Primavera abaixo de zero


No domingo começou a primavera fora de época. Esfriou, esfriou mais e... começou a nevar!!! Nevou a noite toda e na segunda-feira Londres amanheceu toda branquinha, com neve cobrindo o Big Ben, a Tower Bridge, congelando a fonte de Trafalgar Square e, mais importante, transformando o lindo parque que vemos das janelas de casa (aguardem outro post sobre nossa enésima mudança nesta cidade!) em um tapete branco para crianças, cachorros e os londrinos maravilhados com a maior queda de neve dos últimos 18 anos se divertirem.
O astral da cidade estava diferente. Assim que você saía de casa já se deparava com uma pessoa sorridente, olhando em seus olhos – duas atitudes raras aqui -, como se comentando: “Isso não é incrível?”. Parecia a chegada da primavera, quando todos afugentam o mau humor do inverno e são contagiados por uma energia que faz as pessoas lembrarem como é bom viver, o que acaba deixando todos mais felizes e simpáticos uns com os outros.



O Julien e eu já estávamos eufóricos na noite de domingo e como eu iria entrar cedo no trabalho propus a ele, brincando, que ele fosse comigo até o ponto de ônibus às 8h de segunda-feira para aproveitarmos a neve no parque. Ele também não levou a proposta a sério. Mas quando acordamos e vimos tudo, tudo branco, vi ele vestir a calça e sair comigo na maior empolgação! Só neve para arrancar o Julien da cama – e ainda para fora de casa em temperaturas congelantes! – a essa hora! As redondezas da nossa casa pareciam um resort de esqui, com camadas gordas de neve em cima de cercas, plantas, mesas e bancos de pubs, telhados, LINDO!
Quem está acostumado com neve deve estar pensando: “Êta coisa de brazuca maravilhado”, mas a verdade é que todos estavam impressionados com a neve e vimos muitos ingleses indo para o parque de galochas (afinal, aqui eles estão muito mais preparados para chuva do que para neve) para tirar foto e muitos outros andando para o metrô (foi a primeira vez em “living memory” que o serviço de ônibus de Londres foi totalmente suspenso por medidas de segurança) comentando o evento com amigos por celular.
Aliás, durante minha caminhada até o metrô (me precavi com bota de neve, mas fui pisando sobre ovos de preocupação para não cair com meu barrigão no chão congelado) pensei comigo mesma que algumas pessoas provavelmente não olham pela janela antes de sair de casa. Estava pelo menos -1ºC e vi uma mulher de sapatilha sem meia, uma outra de bota de salto alto (que despencou no chão na minha frente – e o bom humor era tamanho que ela começou a rir!), algumas pessoas de All Star e vários executivos da City sambando no gelo em seus sapatos sociais.
Estas foram as pessoas que, como eu, se esforçaram para chegar ao trabalho, pois pelo menos um quinto dos trabalhadores acabou ficando em casa. Além de todos os ônibus terem parado, os metrôs funcionavam com inúmeras estações fechadas e os trens também tinham sido suspensos durante boa parte do dia. Os serviços de táxi estavam indo à loucura com tantos pedidos e na hora do rush da manhã ninguém mais conseguia achar um carro que o levasse até o trabalho.
Quem adorou tudo foram as crianças, afinal todas as escolas fecharam e a criançada foi em massa para a rua e os parques fazer guerra de neve, andar de trenó improvisado com cachorros fazendo o esforço de puxar, descer pequenas ladeiras de esqui ou snowboard e fazer muitos bonecos de neve.
Obviamente, sempre tem de ter mal-humorado de plantão, reclamando da falta de preparo da cidade para um evento como este (que aconteceu há 18 anos pela última vez!), pessoas olhando para os flocos de neve caindo incessantemente e prevendo o caos para voltar para a casa, mas eu estava achando tudo aquilo muito mágico e inesquecível. Eu e milhares de londrinos. Basta ver a quantidade de bonecos de neve espalhados pela cidade!



(texto Andrea, fotos nossas)

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